De acordo com a Diretora-Geral de Saúde, Graça Freitas, a medida reflete uma "postura evolutiva em função do que vai sendo a avaliação do risco". A médica explica que a recomendação será apenas para situações em que não seja possível cumprir o distanciamento social.
"Ao ar livre, a utilização de máscaras fará sentido se formos, de fato, para sítios [lugares] onde não consigamos garantir que ficamos longe de outros. Diferente é uma situação ao ar livre no campo, no jardim, a horas em que não andam outras pessoas a passear", disse Freitas durante coletiva de apresentação do plano de ação na área da saúde para o outono-inverno, nesta segunda-feira (21).
Atualmente, a máscara só é obrigatória em espaços fechados, como escolas e comércio em geral, e dentro dos transportes coletivos.
Em entrevista coletiva para correspondentes estrangeiros nesta quarta-feira (23), o bastonário da Ordem dos Médicos de Portugal, Miguel Guimarães, avaliou a recomendação como importante, principalmente porque a chegada dos meses mais frios traz, historicamente, um agravamento de outros cenários, como o da gripe sazonal comum.
"Por um lado protege-nos uns aos outros daquilo que é a doença COVID-19, mas em Portugal temos a gripe sazonal a bater a porta, vai entrar, e as máscaras também protegem contra o vírus da influenza. Se tivermos um quadro de utilizar as máscaras de forma regular nós vamos ter muito menos gripe sazonal e estamo-nos a proteger também da COVID", explica o bastonário.
Resposta mais eficaz
O bastonário considera que, no geral, a pandemia tem sido combatida de forma correta em Portugal. No entanto, Miguel Guimarães prevê "muita dificuldade neste outono-inverno" para o Serviço Nacional de Saúde, o equivalente ao SUS do país.
O acúmulo de consultas regulares e procedimentos não urgentes atrasados por causa da pandemia, somado aos atendimentos pela COVID-19 e ao quadro da gripe sazonal pode resultar em um "furacão", segundo o médico.
"Significa que Portugal, na minha opinião, vai ter que fazer uma coisa que é fundamental no outono-inverno, que é atualizar todo o sistema de saúde", diz Guimarães.
Entre as alternativas que a Ordem dos Médicos tem apresentado ao governo está o reforço das equipes de saúde, de forma a garantir descanso para os profissionais, muitos em "burn out", síndrome decorrente de estresse e cansaço extremo pela atividade laboral.
"Uma das proposta que fizemos para o plano outono-inverno foi que existam equipas que trabalhassem cerca de 15 dias e depois fossem substituídas e fossem 15 dias para casa. Isto pode-se conseguir fazer em alguns hospitais, que têm equipas mais robustas, e contratando mais, pode ser mais difícil de fazer em zonas mais afastadas", explica.
A Ordem também tem chamado a atenção para a necessidade de se utilizar também a rede privada e entidades sociais como reforço de unidades de atendimento. "Estou convencido que Portugal tem capacidade para dar uma resposta mais eficaz".
Portugal tem 70.465 casos confirmados da COVID-19 e 1.928 mortes causadas pela doença. A maioria dos novos registros tem sido contabilizada na região de Lisboa.
*A reportagem preserva a ortografia do português europeu