A próxima conferência dos membros do Convênio sobre Diversidade Biológica, COP15, prevista para ocorrer na China em 2021, terá entre seus pontos altos a discussão sobre impulsores genéticos, uma nova tecnologia que poucos conhecem e compreendem.
No caso dessa tecnologia, que é "escassamente compreendida e conduz a riscos desconhecidos, o princípio precatório deve se manter como mínimo até que exista um marco claro para avaliar seus efeitos sobre o ambiente", alertou à Sputnik Mundo a pesquisadora Silvia Ribeiro, que integra a equipe da ETC Group, uma organização civil vinculada à tecnologia e ao meio ambiente.
A Bolívia foi o país que pressionou internacionalmente por moratória na adoção desta tecnologia durante a última discussão que ocorreu sobre o tema. Mesmo não tendo ainda alcançado aprovação na reunião da COP14, o país andino organizou uma frente de precaução com distintos países dos continentes americano, europeu e africano.
Um impulsor genérico é um recente transgênico de alto risco à diversidade do meio ambiente. Enquanto os transgênicos que já conhecemos estão principalmente vinculados à manipulação genética de sementes para o uso agrícola, os impulsores se apresentam como distantes do paradigma agroalimentar.
Os promotores dos impulsores genéticos, salientou Ribeiro, armaram uma estratégia publicitária para nos apresentar como um avanço no combate a doenças e conservação do meio ambiente.
Como funcionam?
Esta tecnologia de engenharia genética consiste em transferir informação genética de um ser vivo estrangeiro e, neste caso, modificar a forma de transmitir genes para as próximas gerações.
"A diferença em relação a outras formas de produzir transgênicos é que os impulsores genéticos aplicam uma construção de CRISPR-Cas 9, que segue ativo em todas as gerações posteriores e muda, assim, as leis hereditárias", advertiu Ribeiro à Sputnik.
Ainda assim, o cruzamento genético feito por via sexual em todas as espécies vivas, a herança se divide em metades iguais entre cada progenitor, quando um indivíduo construído geneticamente como estes intervém no gene modificado, que é 100% transmitido ao ser que nasce.
"As leis de Mendel são o conjunto de regras básicas sobre a transmissão da herança genética das características dos organismos progenitores a seus filhos, constituindo o fundamento da genética. Os impulsores genéticos fazem com que o gene modificado seja transmitido completamente pela herança", apontou a especialista.
Ao se cruzar genericamente, a construção CRISPR-Cas 9 que produziu o gene transgênico segue ativo, "é uma espécie de GPS com tesouras, que corta o gene do outro progenitor e o modifica, assim ambos progenitores transmitem o gene modificado", explicou a especialista.
Até agora, os projetos que utilizaram impulsores genéticos para modificar uma espécie tinham o intuito de extinguir as fêmeas e somente produzir machos: "um paradoxo nestes tempos feministas que passam, que a técnica mais sofisticada seja a eliminação das fêmeas", apontou a fonte.
"Sem possuir fêmeas, acaba a espécie", concluiu.
Existem ao menos dois grandes laboratórios nos EUA e Europa que trabalham com essa tecnologia, porém, estas precauções adotadas pelo Convênio de Biodiversidade Biológica mantiveram sob controle a liberação ao ambiente, dado o processo de reação em cadeia que poderia gerar.