Entre os dias 1º e 8 de outubro foi celebrado o 42º Festival Internacional de Cinema de Moscou. A participação do Brasil no evento foi liderada pelo filme "Medida Provisória", nomeado ao prêmio de melhor filme do ano.
Baseado na peça de teatro "Namíbia, Não", do dramaturgo baiano Aldri Anunciação, o filme retrata um "universo distópico" que deve servir de alerta a todos os brasileiros.
"Nós começamos a adaptar a peça em 2012, porque entendemos que ali tinha uma ideia muito original que trazia debates importantes, principalmente para o momento histórico que estávamos vivendo, onde a população negra no Brasil estava debatendo muito o seu espaço de formação de identidade, direitos e deveres", disse Lázaro Ramos à Sputnik Brasil.
Ator, diretor e escritor, Lázaro Ramos despontou nas telas brasileiras com o filme "Madame Satã" (2003), que deu início a uma série de participações bem-sucedidas em filmes como "Carandiru" (2003), "Ó Paí Ó" (2007) e "O Beijo no Asfalto" (2018).
Protagonista da série "Mister Brau", produzida pela Rede Globo, Lázaro Ramos foi laureado com o Troféu Oscarito no Festival de Cinema de Gramado de 2019.
Seu primeiro trabalho como diretor, "Medida Provisória" conta com ótimo elenco, encabeçado por Taís Araújo, Alfie Enoch, Seu Jorge, Adriana Esteves, Renata Sorrah e participações de Emicida e Elza Soares.
No filme, o Brasil é liderado por um governo racista que adota uma medida provisória, segundo a qual a população negra do país deve ser deportada para a África.
Perseguida, a população negra precisa se organizar para comandar a resistência e defender o seu direito de ser parte de seu próprio país.
"O filme dialoga com lideranças negras que existiram: Malcolm X, Martin Luther King, Nelson Mandela, James Baldwin. Tem uma inspiração que tenta mostrar os vários tipos de ativismo que as pessoas exercem", disse Ramos.
"Medida Provisória" trata de temas complexos usando o humor, entusiasmo e música de alta qualidade.
"Acredito fortemente que o humor é um elemento importante, principalmente na linguagem que eu venho exercitando: começar de forma leve, para engajar as pessoas no assunto", disse Ramos.
"Por isso, o filme começa como comédia, vai para o thriller e, depois, chega ao drama. É uma tentativa de envolver emocionalmente o espectador", explicou o diretor.
Direção
Após 36 anos de carreira como ator, Lázaro Ramos revelou ter ficado bastante confortável no papel de diretor.
"Eu gosto muito de dirigir", disse Ramos. "Foi um desafio [...], porque meu modo de trabalho era mais ligado ao teatro e tive que me adaptar para a compreensão da lente do cinema."
"Mas foi um lugar que eu pretendo ocupar outras vezes, porque foi de muito prazer e de renovação, principalmente depois de tantos anos de carreira", revelou Ramos.
A equipe de filmagem de "Medida Provisória" foi formada majoritariamente por pessoas negras.
"O filme é composto por essa coletividade das pessoas que apaixonadamente estavam contando a história e emprestando seus grandes talentos em todas as áreas", disse Ramos.
"Foi muito lindo perceber o envolvimento das pessoas [...] todo mundo se sentindo bem em estar nesse ambiente [...] e se sentindo dono do filme", comemorou o diretor.
Refletindo esse sentimento, os créditos de "Medida Provisória" trazem não só a tradicional listagem das pessoas que trabalharam no filme, mas também o nome daqueles que tiveram "participação afetiva" no projeto.
Brasil distópico
Apesar do caráter ficcional, internautas traçaram um paralelo entre o governo do filme e o atual governo do Brasil real.
"A intenção [do filme] não é essa. A intenção dele é ser um alerta e sobre coisas que a gente não quer que aconteça", garantiu Ramos.
"Eu tenho certeza que [...] a cada momento político que a gente estiver vivendo, assistir [ao filme] vai ser uma experiência sempre nova", disse o diretor.
Produzido pela Globo Filmes, "Medida Provisória" é o primeiro longa de ficção dirigido por Lázaro Ramos.