Embora o número total de ataques de tubarão esteja dentro da média anual da última década, dados oficiais do Arquivo de Ataques de Tubarões da Austrália mostram que mais australianos foram mortos em ataques de tubarões não provocados neste ano do que em qualquer ano desde 1934, relata o jornal The Guardian.
Até agora, sete pessoas foram mortas em decorrência de mordidas de tubarão na Austrália em 2020, das quais seis foram ataques não provocados. No caso mais recente, a polícia no oeste do país cancelou no domingo (11) a busca por Andrew Sharpe, 52, que desapareceu na sexta-feira (9).
Amigos relataram que Sharpe foi atacado por um tubarão antes de seu desaparecimento. Pedaços da prancha de surfe e da roupa de mergulho da vítima foram encontrados na praia.
Em 1929, nove pessoas morreram na Austrália depois de terem sido mordidas por tubarões em eventos não provocados, um recorde que precedeu o debate sobre a introdução das primeiras redes de tubarão nas praias do país vários anos depois.
Mudança climática
Especialistas começam a considerar se o evento climático La Niña, associado às temperaturas mais frias da superfície do mar no Pacífico central, não estaria a afetar onde os tubarões procuram suas presas.
"Em alguns dos casos deste ano, parece que o tubarão rondou e mordeu mais de uma vez, o que é um comportamento incomum para os grandes tubarões-brancos […] Quando eles mordem mais de uma vez, é mais provável que seja fatal, pois há mais perda de sangue", afirma à mídia Blake Chapman, bióloga marinha que examinou a neurociência dos tubarões no doutorado. Chapman acredita que as mordidas repetidas sugerem que o tubarão estava tratando um humano como presa.
Os grandes tubarões-brancos, que mataram várias das vítimas deste ano, "tendem a seguir migrações de presas", como o salmão, que pode ser influenciado por um evento como La Niña, explica Chapman.
"Temos tendência a ver pequenos picos nas picadas de tubarão em La Niña […] Para os grandes tubarões-brancos, se os virmos morder alguém uma vez e depois irem embora, isso sugere que eles talvez estivessem curiosos e não estivessem na área em busca de presas, porque nada impede um tubarão de comer uma pessoa.
Seguindo as presas
O professor Robert Harcourt, diretor do grupo de pesquisa de mamíferos marinhos da Universidade Macquarie, na Austrália, comenta ao jornal que além de temperaturas mais baixas da água serem favoráveis aos grandes tubarões-brancos, o aumento das chuvas durante o La Niña poderia reduzir a salinidade e atrair tubarões-touro para as águas onde mais pessoas nadam.
Da mesma forma, as correntes e os ventos também podem fazer com que salmões e outros peixes se concentrem mais perto da costa do que em outras condições. "Os tubarões estão respondendo onde suas presas provavelmente estarão", esclareceu Harcourt.