Não importa se a escola é pública ou privada. Não importa também se há uma tendência de queda no número de mortes da COVID-19 entre brasileiros. O que o levantamento feito pela Confederação Nacional de Municípios (CNM) mostra é a dura realidade envolvendo 3.988 cidades, cerca de 71% do total brasileiro. A grande maioria não vê como receber estes 31 milhões de alunos, informou a CNM em reportagem do jornal O Estado de São Paulo. E isso seis meses depois do fechamento das escolas.
Para a grande maioria dos gestores entrevistados, o investimento em equipamentos de proteção não basta.
"Na flexibilização de um bar, vai a um bar quem acha que pode ir. Na escola, quando abrir, você faz com que os alunos acabem frequentando, permaneçam por um período longo e voltem para a casa, convivam com pais, avós. É uma situação mais complexa. Em algumas regiões, precisa do ar-condicionado ligado o tempo todo. E não é só aula, é o transporte escolar, acaba envolvendo alunos dentro de um mesmo veículo", diz Glademir Aroldi, presidente da CNM. "Não é uma questão de omissão, mas sim de avaliação e de responsabilidade de decisão".
Num país onde pouco mais de 150 mil pessoas morreram e há cerca de cinco milhões de casos, as cidades que dizem ter como retomar as aulas ainda assim condicionam a reabertura a ações das autoridades sanitárias ou então a criação de vacina que dê segurança ao retorno.
O dilema para equilibrar a manutenção da saúde dos alunos e o risco de déficit de aprendizagem e aumento da evasão levou algumas cidades a tomar atitudes. Reabrir algumas escolas apenas para atividades extracurriculares, por exemplo.
Ou então o ensino on-line - a atividade remota -, mas essa uma realidade ainda distante para 1.428 municípios que têm, no máximo, sinal por satélite ou antena. Sinal irregular, informa a pesquisa. Fora os poucos que têm condições de investir em equipamento. E a crise econômica não ajuda.
Aroldi lembra ainda que há resistência dos pais em enviar seus filhos para as escolas que reabrirem - que podem se infectar e trazer o vírus para casa - e a incerteza a nível estadual de uma data de reabertura das atividades escolares na rede pública. A prefeitura de São Paulo, por exemplo, adiou na última terça-feira (13) a decisão sobre retomada das aulas no dia 3 de novembro. O prefeito Bruno Covas deve se pronunciar semana que vem.
Ainda no ambiente da política, especialistas lembram que é ano de eleição. E reabrir ou não as escolas pode custar votos.
"Muitos prefeitos não estão querendo discutir o retorno às aulas porque é uma questão espinhosa, polêmica, que divide de certa forma a sociedade. Estão postergando essa decisão para 2021 para os novos eleitos, novas gestões", comentou Ivan Gontijo, coordenador da organização sem fins lucrativos Todos Pela Educação, que reúne setores da sociedade para assegurar o direito à educação.