Segundo a nota, divulgada pela ONG nesta quarta-feira (21), pelo menos 56 pessoas morreram nas últimas duas semanas durante os protestos contra a brutalidade policial que acontecem em todo o país, com 38 mortes registradas apenas ontem (20). O governo nigeriano, por sua vez, não quis comentar as alegações da Anistia Internacional.
An on-the-ground investigation by Amnesty International has confirmed that the Nigerian army and police killed at least 12 peaceful protesters yesterday at two locations in Lagos. Killings took place in Lekki and Alausa, where thousands were protesting police brutality. #EndSARS
— Amnesty International Nigeria (@AmnestyNigeria) October 21, 2020
Uma investigação no terreno pela Anistia Internacional confirmou que o Exército e a polícia nigerianos assassinaram ao menos 12 manifestantes pacíficos ontem [20] em duas localidades em Lagos. As mortes ocorreram em Lekki e Alausa, onde milhares protestavam contra a brutalidade policial.
A onda de protestos, batizada de #EndSARS, começou após os chamados para que o governo encerrasse as atividades do Esquadrão Especial Antirroubo da polícia, conhecido como SARS, mas acabou se transformando em uma plataforma para exigir uma melhor governança na Nigéria.
Apesar do aumento da violência na repressão aos protestos, os manifestantes desafiaram o toque de recolher e as forças de segurança nesta quarta-feira (21). Ao longo do dia, foi possível ouvir disparos em Lagos e alguns focos de incêndio se espalharam pela cidade, reportou a Associated Press.
As forças de segurança abriram fogo contra os manifestantes, sem aviso, na noite de ontem (20), na localidade conhecida como Lekki Toll Plaza, enquanto os manifestantes entoavam o hino nacional nigeriano, segundo o relatório da Anistia, que cita como fontes testemunhas oculares, gravações em vídeo e prontuários hospitalares.
"Abrir fogo contra manifestantes pacíficos é uma clara violação dos direitos das pessoas à vida, dignidade, liberdade de expressão e reunião. Os soltados tinham uma intenção clara: matar sem consequências", disse Osai Ojigho, diretor da Anistia Internacional na Nigéria.
O corpo militar da Nigéria, por sua vez, negou qualquer responsabilidade pelos disparos efetuados em Lekki através do Twitter, tachando esses relatos de "fake news".
Be Aware!!! pic.twitter.com/pby5mHqmX1
— Nigerian Army (@HQNigerianArmy) October 20, 2020
Fiquem atentos!!!
Em resposta ao movimento #EndSARS, o governo anunciou que vai desmantelar a unidade policial, que a Anistia acusa de ser responsável por muitos casos de tortura e assassinato. A decisão, no entanto, não satisfez os manifestantes, que exigem reformas mais profundas para acabar com os abusos de direitos humanos cometidos pelas forças de segurança, e o fim da corrupção no âmbito governamental.
O presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, que até o momento fez poucas manifestações públicas sobre a onda de protestos no país, não mencionou os disparos em Lekki em um comunicado publicado hoje (21), mas pediu calma à população e anunciou reformas na polícia.
De acordo com a nota, Buhari disse que a dissolução da unidade SARS "é o primeiro passo de uma série de reformas que oferecerá ao povo nigeriano um sistema de polícia responsável".
As Nações Unidas também se manifestaram sobre a violência na Nigéria através do Alto Comissariado de Direitos Humanos, que é comandado pela ex-presidente chilena Michelle Bachelet.
"Os nigerianos, como todas as pessoas, têm o direito fundamental de se reunirem pacificamente para protestar", disse Bachelet, ao condenar o uso excessivo e desproporcional da força pelos efetivos de segurança em Lagos.