Esta sexta-feira, 23 de outubro, é marcada pelo 58º aniversário do fim deste plano sinistro, supostamente organizado pela Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, com o apoio da Igreja Católica e outras entidades do governo americano.
A transferência em massa dos menores ocorreu entre 26 de dezembro de 1960 e 23 de outubro de 1962, e a grande maioria, ao chegar aos Estados Unidos, acabou em orfanatos, abrigos, e alguns foram até adotados por famílias americanas. Porém, a grande questão é: por que separaram e retiraram milhares de crianças de Cuba?
A infame arma do medo
Desde o final de 1960, apenas dois anos após o triunfo da Revolução Cubana, e coincidindo com as primeiras medidas sociais adotadas na ilha – entre reforma agrária, reforma urbana, nacionalizações, entre outros – notícias falsas começaram a ser espalhadas nas rádios norte-americanas. As estações de rádio Voz da América e a Swan emitiam "alertas" às mães cubanas, dizendo que o novo governo retiraria a autoridade dos pais sobre seus filhos.
Tudo fazia parte de uma campanha anticomunista. As mensagens propagadas amedrontavam as famílias cubanas, dizendo que crianças entre os 5 e os 18 anos seriam mandadas à força para a União Soviética para receberem "doutrinação comunista".
Para dar mais credibilidade à mentira, foi redigida uma falsa lei de poder paternal, supostamente editada pelo governo cubano, que foi secretamente distribuída entre a população da ilha, causando reação imediata.
Álvaro Fernández, cubano-americano editor do portal Progreso Semanal na cidade de Miami, revelou em 2009 que seu pai, ex-agente da CIA Ángel Fernández Varela, foi um dos responsáveis pela redação da lei falsa que causou a histeria.
Álvaro conta que em 2001, antes de falecer, Fernández Varela confessou-lhe que a Operação Peter Pan era uma jogada sinistra planejada pela CIA.
Operação Peter Pan
Vários estudos e investigações indicam que o projeto inicial da Operação Peter Pan foi elaborado pelo padre católico de Miami e diretor-executivo do Departamento do Bem-Estar Familiar Católico, Bryan O. Walsh, e pelo então diretor da Academia Ruston de Havana, o americano James Baker, seguindo supostas ordens da CIA.
Contrariamente a outras operações semelhantes anteriores, como a e 20 mil crianças bascas em 1937, devido à Guerra Civil Espanhola, ou à saída de 30 mil crianças judias da Alemanha nazista entre 1938 e 1939, a Operação Peter Pan ocorreu sem justificação política, ética e política.
Ainda hoje há informações contraditórias em relação ao envolvimento da CIA em tamanho crime. Porém, é certo que por dois anos milhares de crianças, a maioria sem os pais, foram retiradas do seu país-natal por meios clandestinos, cautelosamente planejados e manobrados em plena luz do dia, e marcadas para o resto de suas vidas.