Alguns países tentaram a abordagem de COVID-19 zero, tentando eliminar o vírus em vez de conter sua disseminação. A Nova Zelândia, por exemplo, quase conseguiu, mas após 100 dias sem nem um caso, novas infecções surgiram em viagens internacionais e outras fontes desconhecidas.
Embora seja possível nivelar a curva usando medidas de controle exigentes, chegar ao nível nulo de COVID-19 é mais difícil, mesmo que estas sejam completamente respeitadas.
O exemplo da Nova Zelândia mostra que é necessário evitar que o vírus seja importado, o que exige restrições de viagem prolongadas e severas, bem como testes rigorosos aos passageiros antes e depois da viagem.
Sendo o encerramento prolongado de fronteiras bastante desfavorável e as medidas de controle da comunidade por si mesmas insuficientes para eliminar o vírus, chegar ao desejado nível de COVID-19 zero atualmente é impossível. Contudo, tal pode ser possível no futuro se forem utilizadas abordagens diferentes, segundo o portal Science Alert.
Imunidade é a melhor estratégia
A forma mais eficaz de conter COVID-19 advém do mecanismo de defesa natural do corpo: o sistema imunológico.
A recuperação de uma infecção viral geralmente está associada ao desenvolvimento de imunidade. Ainda não se sabe se a infecção pelo SARS-CoV-2 protege da possível reinfecção pelo mesmo, embora haja poucos exemplos de pessoas sendo reinfectadas, salienta o portal.
A maioria das pessoas infectadas desenvolve anticorpos contra o vírus e, mesmo que aquelas que não desenvolvem os sintomas possam não gerar anticorpos, a infecção ainda pode ativar as células T do sistema imunológico, que fornecem uma defesa alternativa. Deste modo, parece que a infecção gera imunidade na maioria das pessoas estudadas, pelo menos a curto prazo.
Sabendo isto, alguns cientistas sugeriram recentemente que o vírus deveria se espalhar pela população – enquanto protegia os idosos e vulneráveis – para permitir o desenvolvimento da imunidade coletiva.
É aqui que um número suficiente de pessoas em uma população se tornou imune para impedir que uma doença se espalhasse livremente. O limite para que isso aconteça é tão alto quanto 90% a 95% para um vírus altamente transmissível como o sarampo. Alguns sugeriram que pode ser tão baixo quanto 50% para o SARS-CoV-2. O consenso deverá ficar em torno de 60% a 70%.
As consequências de tentar atingir esse limite por meio da infecção natural ocasionariam mais mortes nos grupos de risco: pessoas mais velhas, pessoas com obesidade e indivíduos com problemas médicos subjacentes. Além disso, algumas pessoas infectadas desenvolvem complicações de saúde de longo prazo, mesmo que a infecção inicial não seja muito grave.
Portanto, avança Science Alert, para a maioria da população, os riscos associados à obtenção de imunidade coletiva tornam essa estratégia inaceitável para suprimir o vírus, e eliminá-lo.
Vacinas não são uma solução rápida
Teoricamente, a obtenção de imunidade de rebanho por meio da vacinação tem o potencial de nos levar ao indescritível nível de COVID-19 zero. É mais que sabido que as vacinas reduziram a incidência de difteria, tétano, sarampo, caxumba, rubéola e haemophilus influenzae tipo B para quase zero em muitos países desenvolvidos.
Existem mais de 200 vacinas em desenvolvimento contra o SARS-CoV-2. Porém, ter um eliminador de COVID-19 é uma expectativa muito alta. Qualquer das vacinas produzidas teria de ser altamente eficaz para prevenir a doença, e impedir a propagação do vírus para pessoas que não o contraíram.
As vacinas atualmente em desenvolvimento, no entanto, têm como objetivo uma meta muito menor: ter pelo menos 50% de eficácia, que é o limite necessário para que sejam aprovadas pela Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA na sigla em inglês).
Criar uma vacina altamente eficaz na primeira tentativa pode ser otimista demais. As vacinas também precisam ser eficazes em todas as faixas etárias e seguras para serem usadas em toda a população. A segurança é fundamental, pois qualquer complicação em qualquer faixa etária não só reduzirá a confiança, como também a aceitação da vacina.
Adicionalmente, a vacina também precisará ser produzida em quantidades suficientes para vacinar mais de sete bilhões de pessoas, o que levará tempo.
Em conclusão, embora uma vacina eficaz ofereça a melhor chance de atingir nível nulo de COVID-19, devemos ser realistas sobre o que é possível. A eliminação do vírus em grande parte do mundo, embora não seja impensável, pode levar vários anos para ser concretizada.