No sábado (24) Gedu Andargachew, ministro das Relações Exteriores da Etiópia, convocou o embaixador dos EUA Michael Raynor para prestar esclarecimentos um dia depois que Trump falou na Casa Branca sobre a construção de uma grande barragem hidroelétrica na Etiópia, a maior da África, projeto avaliado em US$ 4,6 bilhões (R$ 25,84 bilhões).
Na sexta-feira (23) Trump disse na Sala Oval que projeto criou uma "situação muito perigosa" porque o Egito, país vizinho da Etiópia que depende do Nilo e de seus afluentes para a maior parte de sua irrigação e água potável, "não será capaz de viver assim".
A situação foi comentada pelo presidente americano durante a cerimônia que marcou o acordo de paz entre Israel e o Sudão que, tal como Egito, está a jusante do Nilo.
"Eles vão acabar explodindo a represa", disse Trump se referindo ao Egito. "Eu disse e vou dizer em alto e bom som – eles vão explodir a represa. Eles têm que fazer alguma coisa".
Por sua vez, o premiê etíope Abiy Ahmed afirmou que o seu país não cederá a "ameaças beligerantes". Ele disse ainda que a Etiópia está empenhada em conversações, lideradas pela União Africana, sobre a resolução de disputas relativas à repartição das águas do Nilo e, segundo ele, têm ocorrido "progressos significativos" nesse diálogo.
As autoridades egípcias acusam Trump de mostrar favoritismo em relação ao Egito e seu presidente, Abdel Fattah al-Sisi. "Lamento dizer, mas o homem não faz ideia do que está falando", disse no sábado o ex-primeiro ministro etíope Hailemariam Desalegn. "A Etiópia e os etíopes nunca serão ameaçados por uma declaração tão irresponsável".
Conhecido como a Grande Barragem da Renascença Etíope, o projeto é anunciado por Adis Abeba como uma forma de tirar milhões de etíopes da pobreza.
O projeto tem gerado preocupações no Egito de que a água, já de si limitada e da qual dependem 100 milhões de pessoas, se torne ainda mais escassa. O Nilo Azul, onde está sendo construída a represa, é um afluente do Nilo, rio que fornece 90% da água potável do Egito.