Dados publicados pela Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que o investimento estrangeiro direto (IED) no Brasil teve queda de 48% no primeiro semestre de 2020 em relação ao mesmo período de 2019. No total, o volume do IED deste ano foi de US$ 18 bilhões (cerca de R$ 103 bilhões) entre janeiro e junho. O resultado é o terceiro pior do mundo, atrás apenas das quedas de 74% nos Estados Unidos e de 61% na Itália.
A economista Maria Beatriz de Albuquerque David, professora da Faculdade de Economia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) detalha as razões que levam a essa situação de perda de investimento estrangeiro no Brasil.
"Realmente os dados do IED confirmam o que já se vinha observando, uma perda de interesse por investir no Brasil por várias razões. Primeiro, por que você vai investir? Dependendo da rentabilidade. E como a taxa de juros caiu muito, a rentabilidade tem que ser a perspectiva de crescimento da economia e ativos baratos", explica a economista em entrevista à Sputnik Brasil.
"Os ativos estão baratos porque houve uma desvalorização importante do real. Nesse sentido, a gente deveria estar atraindo investimento e não perdendo investimento, mas como não há perspectiva de recuperação rápida da economia, os investimentos ficam com uma visão de muito longo prazo", aponta.
Diante desse quadro, a economista aponta alternativas como os ativos das privatizações como boas opções sob uma expectativa positiva, assim como o investimento em infraestrutura, citando o marco regulatório do saneamento básico. Apesar disso, ela aponta que o risco do investimento no Brasil tem impedido a atração dos investimentos.
"Mas com a taxa de risco tão elevada, com a situação com perspectiva de um problema de longo prazo e sem uma visão de longo prazo no Brasil, tudo isso dificulta a atração de investimentos", avalia.
A professora explica ainda que o quadro global de recessão não justifica totalmente a situação brasileira, sendo que a falta de investimentos teria razões principalmente domésticas.
"A questão mundial também tem uma implicação grande, a recessão mundial, todo o impacto da pandemia. Mas, ela não justificaria uma queda tão acelerada da saída de capitais. Realmente é uma perda de atratividade da economia brasileira pelas perspectivas de futuro. São as perspectivas de futuro que estão pouco claras pela situação política de incerteza e pela pouca atratividade", aponta a economista, acrescentando que o investimento só virá com uma "perspectiva de recuperação rápida no futuro".