Ex-espião do Mossad 'aplaude' França por despertar do 'vírus do politicamente correto'

© REUTERS / Eric GaillardHomem reza pelas vítimas do ataque de 29 de Outubro em frente da catedral de Notre Dame
Homem reza pelas vítimas do ataque de 29 de Outubro em frente da catedral de Notre Dame - Sputnik Brasil
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Na França, outro ataque violento fez três vítimas mortais na Basílica de Notre-Dame de Nice, na quinta-feira (29), após um terrorista com faca ter entrado de surpresa na igreja.

O prefeito da cidade, Christian Estrosi, já classificou o ataque como "ato de terror", e o país já elevou seu sistema de alerta de segurança nacional ao mais alto nível.

Segundo um ex-agente do Mossad – Agência Nacional de Inteligência de Israel, é quase impossível erradicar os ataques terroristas de "lobos solitários" que ocorrem na França, pois é extremamente difícil penetrar nas mentes de milhares de radicais em todo o país e rastreá-los.

Quando se sabe a história, nada surpreende

O ataque não foi uma surpresa para Gad Shimron, um comentarista de segurança e ex-agente do Mossad. Sendo alguém que lida com ameaças à segurança há anos, Shimron diz que a França tem uma longa história de ataques contra alvos civis e, às vezes, militares.

A história de violência terrorista na França remonta ao final do século XIX, quando anarquistas cometeram bombardeios na capital, chegando até mesmo a assassinar o presidente da Terceira República Francesa, Sadi Carnot, em 1894.

© REUTERS / ERIC GAILLARDPoliciais na área de ataque com faca que matou três pessoas em Nice, França, em 29 de outubro de 2020
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Policiais na área de ataque com faca que matou três pessoas em Nice, França, em 29 de outubro de 2020
Porém, agora o terror adquiriu outra forma: o radicalismo islâmico. As raízes do movimento têm origem no final da década de 1960, quando a França se abriu para a imigração das ex-colônias do Norte da África.

Naquela época, milhares de pessoas se mudaram para a França em busca de empregos e melhores oportunidades. Muitos conseguiram se integrar à sociedade francesa, porém, a maioria sofreu com a desigualdade e discriminação, levando as gerações mais jovens ao extremismo. Isto sem falar nas questões de crise de identidade bastante proeminentes nas massas jovens descendentes das ex-colônias ou de outros grupos étnicos.

Como combater e parar o terrorismo?

Às vezes, o extremismo surge do desejo de imitar outros radicais, ou do desejo de chamar a atenção. No entanto, independentemente do motivo, Shimron diz que é virtualmente impossível conter o fenômeno.

"O que estamos vendo atualmente é uma onda de 'ataques de lobos solitários'. É extremamente difícil combatê-los, porque mesmo as melhores agências de segurança do mundo não conseguem penetrar na mente de todos os extremistas muçulmanos na França. E esse é também o motivo de vermos mais deles acontecendo."

Levando em consideração que 10% da população francesa correspondem a muçulmanos, onde ideais radicais costumam estar dispersas em mesquitas, esportes e centros culturais por todo o país, tamanha previsão é alarmante.

Em uma tentativa de impedir a propagação do fenômeno, as autoridades francesas já começaram a reprimir mesquitas radicais e outras instituições muçulmanas que acreditam ser o centro do extremismo em questão. Contudo, Shimron duvida que essas ou outras medidas levem à vitória sobre terror.

© REUTERS / Eric GaillardPresidente da França, Emmanuel Macron durante visita ao local do atentado em Nice, França, 29 de outubro de 2020
Ex-espião do Mossad 'aplaude' França por despertar do 'vírus do politicamente correto' - Sputnik Brasil
Presidente da França, Emmanuel Macron durante visita ao local do atentado em Nice, França, 29 de outubro de 2020

"As autoridades francesas não podem reagir de forma muito radical à situação e decidir fechar todas as mesquitas do país", diz ele, referindo-se ao potencial poder dos eleitores muçulmanos. "Por isso, as autoridades francesas precisam [...] investir muito na inteligência humana e eletrônica para evitar que tais atos aconteçam."

Porém, França já deu passos necessários nessa direção.

A Direção-Geral da Segurança Externa da França, cujo trabalho envolve monitorar grupos islâmicos, tem um orçamento anual de mais de US$ 830 milhões (aproximadamente R$ 4,7 bilhões), e após uma série de ataques mortais à França, em 2015, o país aumentou seu compartilhamento de inteligência com vários países europeus, bem como com Israel, em uma tentativa de detectar aqueles que ousam desafiar a segurança da nação, de acordo com a publicação do Wall Street Journal na época.

Contudo, Gan Shimron acredita que a França não pode, realmente, aprender com a experiência de Israel, que tem sido relativamente bem-sucedido em lidar com suas próprias ameaças à segurança, devido à "natureza muito diferente das circunstâncias dos dois Estados".

Em vez disso, o ex-agente do Mossad sugere que a França invista mais no rastreamento e mapeamento daqueles que podem representar um perigo potencial, olhando nos olhos do extremismo sem "enfiar a cabeça na areia".

"A França e o mundo inteiro estão acordando. Em 2015 [durante a onda de ataques terroristas], Paris foi cautelosa ao não ter classificado esses ataques como terror islâmico. Agora está mudando. O vírus do politicamente correto se foi e as pessoas não estão mais tímidas em chamar a ameaça pelo seu nome."
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