Segundo o levantamento divulgado na última terça-feira (27), o pacote de 5 kg de arroz em fevereiro desse ano, antes de ser decretada a pandemia, custava R$ 12,78 e passou para R$ 21,83 em outubro.
Em entrevista à Sputnik Brasil, Alexandre Azevedo Velho, presidente da Federarroz (Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul), o estado maior produtor de arroz do país, atribuiu o aumento do preço de arroz nas prateleiras a diversos fatores, entre eles, o cenário mundial vivido por outros países produtores do cereal.
"A mudança de patamar do preço do arroz faz parte de uma conjuntura mundial em 2020, grandes países produtores como a China, Índia e também a Tailândia diminuíram suas exportações em função da pandemia e da questão da segurança alimentar", declarou.
A pesquisa do Procon mostrou que a maior variação mensal do ano de 2020 ocorreu no mês de setembro, 21%, quando o pacote que custava R$ 16,87 em agosto passou para R$ 20,35.
O levantamento foi realizado em 40 supermercados distribuídos nas cinco regiões do município de São Paulo e abrange 39 itens dos grupos de alimentos, higiene pessoal e limpeza doméstica.
Outro motivo que levou ao aumento do preço do arroz nos supermercados brasileiros, de acordo com Alexandre Azevedo Velho, é a taxa de câmbio, com a desvalorização do real em relação ao dólar.
"Isso favoreceu muito a competitividade do arroz brasileiro e consequentemente a exportação teve volumes maiores durante este ano. Temos também uma paridade maior com relação ao Mercosul e isto dificulta a entrada de arroz do Mercosul valorizando o mercado interno", destacou.
O produtor também explicou que a área plantada do arroz no Brasil diminuiu muito. Alexandre Azevedo Velho calcula que só no Rio Grande do Sul, que corresponde por 70% da produção nacional, a área plantada do arroz diminuiu mais de 250 mil hectares.
"Essa diminuição de área também provocou um ajuste na oferta e demanda. Justamente neste ano de 2020, em função da pandemia, nós tivemos uma mudança de comportamento por parte do consumidor que ficou mais em casa e consequentemente aumentou o consumo de produtos como o arroz", disse.
Alexandre Azevedo Velho disse que o consumo de arroz no Brasil aumentou para quase um milhão de toneladas durante a pandemia.
"Se calcula que o aumento do consumo de arroz no Brasil passa de 10%, isso significa dizer que nós aumentamos para quase um milhão de toneladas o consumo anual, já que a demanda brasileira de arroz está calculada em pelo menos 900 mil toneladas por mês", afirmou.
"Essa mudança já era prevista e uma família de quatro pessoas, mesmo pagando R$ 4,50 pelo quilo do arroz que consome todos os dias, não vai gastar mais do que R$ 25 por mês. Isso demonstra que o arroz ainda é um produto acessível", defendeu.
Segundo o produtor, o preço do produto não representa uma grande fatia do valor geral da cesta básica.
"O cálculo da participação do arroz na cesta básica é somente de 2% a 3%, isso mostra que o arroz mesmo nesse novo patamar continua sendo um produto acessível aos consumidores", declarou.
O presidente da Federarroz disse que o Brasil vende o produto principalmente a países da América Central.
"A maior venda para o mercado externo se deve a este câmbio acima de R$ 5, muitos mercados da América Central são os principais compradores do arroz brasileiro", explicou.
Outro ponto salientado por Alexandre Azevedo Velho é de que não há riscos de faltar arroz nas prateleiras dos mercados do Brasil.
"O mercado nacional está abastecido, o governo brasileiro acabou diminuindo a Tarifa Externa Comum para trazer arroz de fora para garantir esse abastecimento, mas nós temos arroz suficiente para chegar até a próxima safra que já deve iniciar a partir do mês de janeiro", afirmou.