Na segunda-feira (30), terminou a campanha Movimento Vacina Brasil, promovida pelo Ministério da Saúde, cujo objetivo era vacinar cerca de 11,2 milhões de crianças entre um e cinco anos de idade contra a poliomielite, além de atualizar a caderneta de vacinação de crianças e adolescentes de até 15 anos. A campanha teve adesão consideravelmente baixa e alguns estados estão prorrogando o período da ação, levando em conta que o país está diante do ressurgimento de doenças como o sarampo.
Renato Kfouri, médico pediatra e infectologista, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, aponta que os resultados ruins de campanhas de vacinação vêm ocorrendo nos últimos anos por duas razões distintas.
"Uma delas é a divulgação - nós vivíamos no passado uma excelente divulgação dessas campanhas – e a própria sensação de proteção que o sucesso das vacinas trouxe. As doenças desapareceram e a percepção da necessidade de se vacinar, de se proteger, foi diminuindo com o passar do tempo. Esse é um grande desafio, tornar a comunicação efetiva no sentido de as pessoas entenderem a necessidade de continuarem se vacinando, a despeito das doenças estarem sendo, ou já terem sido, a maioria delas, controladas", afirma o médico em entrevista à Sputnik Brasil.
"O isolamento social, sem dúvida, piorou nosso cenário em relação às coberturas vacinais. As pessoas com receio de frequentar unidade de saúde, de frequentar serviços que possam ter aglomerações, deixaram, inclusive, de se vacinar. O que é um grande equívoco, porque muitas vezes essas doenças, contra as quais as vacinas estão disponíveis, acometem com maior incidência, com uma gravidade muito maior as crianças, do que a própria COVID-19", afirma Kfouri, ressaltando que o novo coronavírus pode ter menor impacto sobre crianças, mas doenças como coqueluche e sarampo vitimam mais os pequenos.
O infectologista também recorda que as campanhas sofrem o impacto da disseminação de notícias falsas a respeito das vacinas, acusando os imunizantes de serem inseguros.
"As notícias infundadas a respeito das vacinas deixam hesitantes aqueles que estavam convencidos de se vacinar. Então é muito importante combatê-las em todas as áreas. E com a saúde, com as vacinas, mais ainda, porque isso realmente pode causar danos maiores. A epidemia da desinformação muitas vezes mata mais do que as próprias doenças contra as quais elas são veiculadas", explica o médico.
Kfouri aponta que a comunicação sobre a necessidade da vacinação precisa ser reforçada e adaptada à Internet. Para o médico, a iminência da aprovação de uma vacina contra a COVID-19 pode ser um reforço na conscientização das pessoas a respeito da imunização contra outras doenças.
"A perspectiva de uso de vacinas para a COVID-19 pode trazer sim uma conscientização sobre o valor que a vacinação tem. Nós estamos vivenciando a falta que uma vacina faz, imagina se faltassem todas no calendário. É uma excelente oportunidade, já que o tema está bastante discutido e na moda, que a gente comece a conversar sobre outras vacinas também, não restringindo a informação da população somente às vacinas contra a COVID-19. Acho que é uma excelente oportunidade de ampliar a discussão", conclui.