Segundo o jornal norte-americano The New York Times, as iniciativas chinesas são parte de um "impulso silencioso, mas firme" do gigante asiático para estender sua presença no Caribe.
De acordo com a mídia, os mercados caribenhos são geralmente pequenos e a maioria das nações carece de reservas consideráveis de minerais e outras matérias-primas.
Porém, "a região é estrategicamente importante como centro logístico, bancário e comercial, segundo analistas, e pode ter grande valor de segurança em um conflito militar devido à sua proximidade com os EUA", diz a publicação.
Interesse caribenho
O crescente interesse da China na região parece vir em boa hora, uma vez que as nações caribenhas têm sérias necessidades, principalmente na área de infraestrutura.
As empresas chinesas têm investido em portos e logística marítima, em mineradoras e petrolíferas, na indústria açucareira e de madeira, em centros turísticos e em projetos de tecnologia.
Ao longo de 15 anos, os empréstimos a juros baixos do governo chinês, totalizando mais de US$ 6 bilhões (R$ 32 bilhões, aproximadamente), financiaram grandes projetos de infraestrutura e outras iniciativas em todo o Caribe, relata o jornal.
A Jamaica, por exemplo, recebeu mais empréstimos do governo chinês do que qualquer outra nação insular do Caribe. Nos últimos 15 anos, Pequim emprestou à Jamaica cerca de US$ 2,1 bilhões (R$ 11 bilhões, aproximadamente) para a construção de estradas, pontes e casas.
Segundo as autoridades jamaicanas, os empréstimos chineses pendentes não representam um fardo extraordinário para o país, traduzindo apenas cerca de 4% da carteira total de empréstimos da Jamaica.
Além da economia
A China também expandiu a sua influência no Caribe por meio da cooperação em segurança, incluindo a doação de equipamentos para forças militares e policiais. Com a pandemia, a China conseguiu fortalecer ainda mais essas relações, através da doação e venda de equipamentos de proteção individual.
O gigante asiático também prometeu conceder empréstimos para vacinas contra a COVID-19 a países da América Latina e Caribe.
Outro aspecto da presença chinesa na região são os programas culturais e a expansão da rede de Institutos Confúcio. Estes institutos oferecem ensino de línguas e programas culturais, apesar do jornal norte-americano observar que foram acusados de "espalhar propaganda do governo chinês".
A questão de Taiwan
A China considera Taiwan como parte de seu território e há muito tenta reduzir o número de nações que o reconhecem como país.
Deste modo, um motivo crucial para a estratégia caribenha da China é conquistar o restante das nações que reconhecem oficialmente Taiwan, a maioria delas no Caribe e na América Latina, de acordo com Richard L. Bernal, professor da Universidade das Índias Ocidentais na Jamaica, e ex-embaixador da Jamaica nos EUA, citado pela mídia.
"O objetivo da China é eliminar gradualmente o reconhecimento de Taiwan", afirma Bernal.
Desafio para os EUA?
Embora a China tenha aumentado a sua presença na região, o país tem evitado desafiar diretamente os EUA, afirmam os analistas citados no artigo.
No entanto, a ascensão da China no Caribe levou a administração Trump a promover suas próprias iniciativas de investimento, incluindo o Growth in the Americas, que muitos analistas viram como uma resposta direta aos esforços diplomáticos e Comércio da China na região.
Ao mesmo tempo, os EUA intensificaram os alertas a seus aliados caribenhos sobre os riscos de fazer negócios com Pequim, que vão desde construções precárias até empréstimos predatórios e espionagem.
O embaixador dos EUA na Jamaica, Donald Tapia, alertou recentemente, em uma série de postagens no Twitter, contra a instalação de redes 5G feitas pelas empresas chinesas Huawei e ZTE." A Huawei tem um histórico de espionagem, roubo e apoio a regimes autoritários", escreveu o diplomata.
Por sua vez, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, disse em janeiro que era "tentador aceitar dinheiro fácil de lugares como a China".
Em resposta, a embaixada chinesa na Jamaica garantiu que havia aprofundado seu compromisso com os países caribenhos "com base no respeito mútuo, igualdade e benefício mútuo", acusando os EUA de provocar disputas.
As nações caribenhas, por sua vez, não querem ser forçadas a escolher um lado. O aumento da competição entre as duas superpotências coloca esses países em uma posição desconfortável, de acordo com Pepe Zhang, diretor associado do Centro Adrienne Arsht para a América Latina do Conselho do Atlântico, citado pelo jornal.