Uma equipe de cientistas sugere que a razão pela qual certos pacientes com COVID-19 apresentam complicações mortais ou sofrem problemas graves de saúde radica nos genes do sistema imunológico. Os resultados foram publicados recentemente em dois estudos compilados na revista Science.
As pesquisas se concentram nos interferons, grupo de proteínas que atuam para defender o corpo ante a presença de diversos patógenos, como os vírus, as bactérias, os parasitas e as células tumorais.
Após realizarem as análises correspondentes, os especialistas descobriram que os pacientes mais graves com COVID-19 careciam destes genes cruciais, o que influenciaria drasticamente na resposta do organismo na hora de combater a doença e seu nível de susceptibilidade.
Interferência de anticorpos
No primeiro estudo, os cientistas observaram que 10,2% de 987 pacientes que sofreram uma infecção grave pelo novo coronavírus tinham um erro genérico inato. Nestes casos as células que atacam por erro o organismo, chamadas anticorpos, interferiram com os interferons, desencadeando as complicações.
Enquanto isso, outros pacientes com COVID-19 com um quadro clínico mais leve ou diretamente assintomático não apresentaram os mesmos níveis de anticorpos, permitindo que seus interferons combatessem o vírus. De fato, somente quatro dos 1.227 pacientes saudáveis tinham os anticorpos.
"Esta é uma das coisas mais importantes que aprendemos sobre o sistema imunológico desde o início da pandemia", salientou, conforme cita o canal NBC News, o pesquisador Eric Topol, que não participou do estudo, mas descreve seus resultados como uma "descoberta revolucionária".
O estudo foi dirigido por Covid Human Genetic Effort, uma coalizão que inclui 200 centros de pesquisa em 40 países.
Mutações genéticas
Por outro lado, o segundo estudo detalha que outros 3,5% dos casos de pacientes criticamente doentes tinham mutações em genes que controlam os interferons e que ajudam a lutar contra o vírus. Segundo o principal autor do estudo, Qian Zhang, é provável que se encontrem mais mutações, já que o corpo tem entre 500 e 600 desses genes.
Outro dado importante é que 94% dos pacientes graves com COVID-19, cujo estado esteve relacionado com um alto número de anticorpos, eram homens, o que representa grande desproporção em relação a mulheres.
Segundo Paul Bastard, autor principal do primeiro estudo, se desconhece porque os anticorpos não teriam causado problemas até a chegada do novo coronavírus. De alguma forma, parece que o SARS-CoV-2 ou a resposta imune os ativou.