Astrofísicos de todo o mundo estão ansiosamente à espera de amostras de solo do asteroide Ryugu, que podem trazer consigo respostas importantes sobre o Universo e o nosso planeta. Em especial, os pequenos grãos do solo do asteroide podem revelar o mistério sobre como a água surgiu na Terra.
"Asteroides são restos de blocos de construção da formação do nosso Sistema Solar 4,6 bilhões de anos atrás, tornando-os muito importantes para a ciência. Se quiserem saber do que inicialmente o planeta foi feito, asteroides devem ser estudados", explicou professor de Ciência Planetária da Universidade de Glasgow, Martin Lee, citado pelo The Guardian.
Professor Lee e seus colegas vão ser a primeira equipe de cientistas do mundo a analisar as amostras do Ryugu.
Ainda é incerto quantas amostras Hayabusa2 conseguiu recolher por problemas técnicos, mas pesquisadores estão seguros de que, com ajuda de sonda atômica, conseguirão possuir resultados de grãos do solo de apenas alguns milímetros de diâmetro. O aparelho deve ajudar a identificar átomos individuais nas partículas do solo.
"Essencialmente, vamos pegar um pedaço do solo e incendiar sua superfície exterior com um laser. Em outras palavras, um por um, vamos arrancar átomos. E depois, cada um destes átomos vai ser medido para determinar o elemento específico e seu isótopo. Também podemos reconstruir onde exatamente o átomo se situava na amostra, e assim vamos receber uma imagem tridimensional da estrutura atômica da nossa amostra", contou o professor Lee.
Mistério da água e outros segredos
Todos sabemos que água é essencial para a vida. Ao todo, 70% do nosso planeta são cobertos por água e mais de 60% do corpo humano correspondem a H2O, mas ainda é mistério para cientistas como a água apareceu na Terra, porque quando o Sistema Solar se formou, planetas eram quentes demais para conter gelo.
Segundo hipótese, a água foi fornecida ao nosso planeta por asteroides e cometas que colidiram com a Terra muito tempo atrás.
Análise do cometa 67P/Churyumov–Gerasimenk, conduzida entre 2014 e 2016, revelou que o objeto celeste tem água, porém, é diferente da qual foi descoberta no nosso planeta, contendo níveis de deutério, ou seja, isótopo de hidrogênio, o que fez muitos astrofísicos acreditarem que a água poderia existir no nosso planeta desde sua formação.
"No entanto, provavelmente, estes cometas antigos não foram a única fonte de água no Sistema Solar e mais reservatórios recentes foram criados pelo vento solar, batendo pedras em asteroides. Água, formada lá, poderia ter baixos níveis de deutério, o que poderia explicar como os nossos oceanos acabaram contendo água com quantidade de isótopos diferente. E, claro, a exploração de átomos de pedras do asteroide Ryugu, que vem sendo bombardeado por vento solar há bilhões de anos, pode responder à pergunta", adicionou cientista.
Cientistas falam sobre as expectativas das amostras do Ryugu resolverem outros mistérios que têm confundido astrônomos por décadas, um deles sendo o que acontece com rochas espaciais quando são constantemente bombardeadas por vento solar. Ao contrário do nosso planeta, asteroides e outros corpos celestes não possuem campo magnético nem atmosfera.
"Este bombardeio pode estar desencadeando a criação de água em asteroides, prótons são, essencialmente, íons de hidrogênio e podem entrar em reação com oxigênio em pedras para criar moléculas de água", disse o membro da equipe da Universidade de Glasgow, Luke Daly.
Cientistas preveem que a sonda Hayabusa2 vá liberar a cápsula com amostras de solo nos próximos dias. Se tudo ocorrer bem, a cápsula cairá seguramente de paraquedas no campo de testes Woomera, na Austrália, em 6 de dezembro.