Com praticamente 100% das urnas apuradas na capital paulista, Bruno Covas (PSDB) aparecia com 32,85% dos votos (1.747.938 ), enquanto Boulos tinha 20,24% (1.077.168).
A ida para o segundo turno já era uma possibilidade apontada pelas últimas pesquisas, mas o candidato cresceu ainda mais na hora da votação e conseguiu um resultado expressivo. Em terceiro, surgia Márcio França (PSB), com 13,65% (726.132); em quarto, Celso Russomanno (Republicanos), com 10,5%; em quinto, Arthur do Val (Patriotas), com 9,78%; e, em sexto, Jilmar Tatto (PT), com 8,75%.
Para o cientista político Danilo Bragança, pesquisador da Universidade Federal Fluminense (UFF), o candidato do PSOL, "com a formação que tem", "não pode ser considerado uma surpresa".
"A apresentação do Boulos já tinha sido feita em 2018", disse o especialista à Sputnik Brasil. "Surpresa foi ele conseguir mobilizar uma parcela do eleitorado que estava pouco afeita a votar na esquerda, que foi a periferia pobre que votou em massa em Bolsonaro em 2018 e causou um desequilíbrio na balança", acrescentou Bragança.
As eleições municipais não apontam uma vitória do bolsonarismo nas urnas, embora, ao mesmo tempo, não seja possível dizer que ele sai enfraquecido, disse especialista à Sputnik Brasil https://t.co/2ve0urYHPv
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) November 16, 2020
'Grande sacação é a Internet'
Além disso, o cientista polítIco aponta como fator de destaque a elogiada campanha digital do psolista, que conseguiu grande mobilização nas redes sociais.
"A grande sacação é a Internet, a maneira como ele consegue mobilizar esse eleitoral jovem, que não ia votar ou votaria no mais fácil. Boulos é um político muito bem preparado, um quadro muito forte. Ele tem uma capacidade de comunicação que muito se assemelha ao ex-presidente Lula", disse o pesquisador da UFF.
Para o cientista político Paulo Baía, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), um dos principais destaques das eleições municipais foi a "projeção do PSOLcomo um partido nacional".
'Vai ter que conversar com o PT e o PT com PSOL'
Além de São Paulo, a sigla irá ao segundo turno em Belém, com o ex-prefeito Edmilson Rodrigues, que teve 34,22% dos votos, seguido por Delegado Eguchi (Patriotas), com 23,06%.
"O PSOL passa a fazer parte do tabuleiro de xadrez principal do país. O partido é um grande interlocutor da esquerda, com uma proposta bem definida, que vai ter que conversar com o PT, e o PT conversar com o PSOL", disse Baía à Sputnik Brasil.
Antipetismo, não anti-esquerdismo
Para o sociólogo Marcelo Seráfico, professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), o resultado das eleições mostram que o antipetismo pode até permanecer como força eleitoral no país, mas "separado do anti-esquerdismo".
"Boulos, Edmilson, Manuela e alguns outros no segundo turno indicam isso", afirmou à Sputnik Brasil.
Em Porto Alegre, Manuela D’Ávila (PCdoB) ficou em segundo lugar, com 29% dos votos, atrás de Sebastião Melo (MDB), que teve 31%.
Em relação ao Partido dos Trabalhadores, Seráfico diz que a "principal luta" do partido será "escapar do antipetismo".
"Essas eleições estão sendo um teste nesse sentido. O PSDB não foi objeto desse tipo de movimento de estigmatização, a despeito de compor com o PT um sistema que alguns chegaram a comparar ao dos partidos nos Estados Unidos. O resultado dessas eleições serão importantes para ambos, pois tendem a relativizar o hegemonismo de PT e PSDB como emblemas, verdadeiros ou não, da esquerda e da centro-direita. O PT, em particular, só se vê como cabeça de chapa. Isso tende a mudar", afirmou o sociólogo.
PT mais forte do que em 2016
Para Paulo Baía, o PT se fortaleceu em relação às eleições municipais de 2016, quando perdeu muitas prefeituras em que governava.
"O partido vai eleger um número importante de prefeitos e significativo de vereadores. Isso faz com que o PT se mantenha como uma força competitiva nacional, mais combativo, mais estruturado e com mais esperança", disse o cientista político.
Política tradicional x antipolítica
Além disso, muitos especialistas concluíram que as eleições de 2020 apontam para um fortalecimento das legendas e políticos tradicionais, ao contrário do pleito de 2018, marcado por forte renovação e um sentimento genérico contra a "velha política".
"Os partidos tradicionais parecem estar voltando. A questão é: por quê? É preciso ver, porém, se essa volta se assenta apenas em figuras tradicionais ou se há uma renovação de quadros, e qual a natureza dessa renovação. É improvável que se possa atribuir a mudança a questões propriamente ideológicas desses partidos. Creio que uma das chaves para entender tenha a ver com um ajuste fino e oportunista entre pautas típicas desses partidos e algumas das bandeiras bolsonaristas, como a das ditas escolas cívico-militares, da segurança pública etc.", disse Marcelo Seráfico.