Ao determinar a idade e a composição isotópica de háfnio dos zircões, pesquisadores da Universidade de Copenhague mostraram que parte desses cristais era proveniente do interior profundo de Marte. Caso os cientistas estejam corretos, isso significa que os minerais em estudo contêm informações sobre o interior profundo e inacessível de Marte, fornecendo uma espécie de imagem da estrutura interna do planeta, segundo o site de notícias científicas Phys.org.
O mineral zircão, que contém urânio, é um constituinte abundante da crosta continental da Terra, fornecendo informações sobre a idade e a origem dos continentes e demarcando as características geológicas, como cadeias de montanhas e vulcões gigantes. Contudo, ao contrário da Terra, a crosta de Marte não evoluiu, sendo, em termos de composição, semelhante à crosta encontrada sob os oceanos da Terra, onde o zircão é raro.
"Ficamos muito surpresos e empolgados quando encontramos tanto zircão neste meteorito marciano. Zircões são cristais incrivelmente duráveis [...] e que preservam informações que nos contam sobre suas origens. Ter acesso a tamanha quantidade é como abrir uma janela do tempo para a história geológica do planeta", descreve o professor Martin Bizzarro, do Instituto GLOBE, que conduziu o estudo.
A equipe analisou o antigo meteorito marciano NWA 7533, apelidado de Black Beauty (Beleza negra), que foi descoberto no deserto do Marrocos em 2011. Depois de esmagar 15 gramas da rocha, eles extraíram cerca de 60 zircões. Ao datar a idade destes, descobriram que a maioria dos cristais data de cerca de 4,5 bilhões de anos atrás, ou seja, o início da vida do planeta. Porém, houve outra descoberta inesperada: alguns cristais definiram idades muito mais jovens, variando entre os 1,5 bilhão e 300 milhões de anos.
Assim, Martin Bizzarro acredita que "o meteorito Black Beauty venha do hemisfério sul de Marte, que não tem nenhum terreno vulcânico jovem. [Mas] a única fonte possível para esses cristais de zircão jovens é a província vulcânica de Tharsis - província vulcânica que hospeda os maiores vulcões do Sistema Solar, que têm até 21 quilômetros de altura, pois Marte não tem placas tectônicas – localizada no hemisfério norte do planeta, que contém grandes vulcões que estiveram ativos recentemente", acrescenta o pesquisador.
Se a equipe de Bizzarro estiver correta, isso significa que os jovens zircões podem conter informações sobre o interior profundo e inacessível de Marte. Esta é a primeira vez que os cientistas têm acesso direto ao interior profundo do Planeta Vermelho por meio de tais amostras, o que pode permitir que venham a descobrir a estrutura interna e a composição de Marte.
"O nosso estudo deixa claro que uma missão de retorno com o objetivo de adquirir amostras de zircão será de alto valor científico para a compreensão da história geológica de Marte", conclui o pesquisador.