Segundo Guilherme Werneck, médico epidemiologista e professor do Instituto de Medicina Social da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), a resposta é não.
"Precisamos ter cautela, porque as vacinas não podem ser consideradas como um único elemento, ou como se diz, uma bala de prata, para o término dessa pandemia", afirma o especialista, sobre as 130 milhões de vacinas que serão disponibilizadas pela Fiocruz.
Werneck explica o motivo para a cautela. Segundo ele, além da vacina, outros vários elementos também precisam ser levados em conta quando se fala em combate a uma pandemia.
"Algumas dessas vacinas, como a vacina da Pfizer e da Moderna, por exemplo, têm limitações em termos de distribuição, em função dos aspectos relacionados à cadeia de frio. Além disso, algumas dessas vacinas não foram inicialmente compradas pelo Brasil, então não estarão disponíveis rapidamente", diz o especialista.
Outro elemento ressaltado pelo epidemiologista é a efetividade das vacinas. Werneck explica que quando os imunizantes saem dos estudos e vão para a prática, ou seja, para as campanhas de imunização, a eficácia pode não ser a mesma que foi alcançada durante as pesquisas em laboratório.
"As vacinas têm a eficácia influenciada por uma série de mecanismos e questões operacionais. Ou seja, a vacina tem uma eficácia, mas na prática ela pode ter mais dificuldade de corresponder aos estudos", afirma Werneck.
Brasil deve lidar com COVID-19 até 2022
Em contraponto às boas notícias sobre as eficácias das vacinas nas últimas semanas, o Brasil viu os números da pandemia subirem novamente. A taxa de transmissão é a mais alta desde maio, os números de casos e óbitos voltaram a subir em muitas cidades, e há duvidas sobre se o país está preparado para uma segunda onda de COVID-19.
Sobre este cenário, Werneck avalia que o Brasil está atravessando atualmente um momento "muito crítico", já que passa por reversão das quedas nos números, que aconteciam desde julho.
"É importantíssimo que as pessoas reconheçam que o risco está aumentando, e é preciso as pessoas se conscientizarem para manter o distanciamento e as precauções. [...] A situação não está simples e não teremos em tão curto prazo assim uma solução vacinal que possa interromper esse crescimento que estamos observando nesse momento", diz Werneck.
Além de reforçar a necessidade das medidas de prevenção, Werneck destaca que, mesmo se as previsões se confirmarem e a vacinação tiver início em 2021, isso não significa que a vacina estará disponível para todos nos próximos meses. Antes, é preciso definir quem terá prioridade em receber as primeiras doses. Werneck defende que, além de médicos e pessoas com comorbidade, como idosos e obesos, os indígenas também deveriam figurar na lista de prioridades, uma vez que vêm "sendo acometidos de forma brutal pela COVID-19".
Independente de quem serão os primeiros a serem imunizados, ainda teremos meses de combate à COVID-19 pela frente, na opinião do especialista.
"Ainda em 2021 e possivelmente até em 2022 vamos ainda lidar com a COVID-19 e precisamos estar atentos, com sistemas de vigilância preparados, sistemas hospitalares para a atenção e prevenção do novo coronavirus", afirma Werneck.