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Boulos em SP: é possível perder uma eleição, mas sair vitorioso?

© REUTERS / Amanda PerobelliCandidato Guilherme Boulos acena para apoiadores de sua casa em São Paulo
Candidato Guilherme Boulos acena para apoiadores de sua casa em São Paulo - Sputnik Brasil
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Apesar da derrota para Bruno Covas (PSDB) em São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL) sai da eleição fortalecido como nova liderança política, disseram cientistas políticos ouvidos pela Sputnik Brasil.

Com quase 100% das urnas apuradas, o atual prefeito de São Paulo obteve 59,38% dos votos (3.168.857), conquistando a reeleição, enquanto o candidato do PSOL teve 40,62% (2.167.955 ). 

Para a cientista política Alessandra Maia Terra de Faria, a vitória do candidato do PSOL era muito difícil, pois eleger um novo quadro contra um rival que tenta a reeleição é historicamente difícil: "Existe uma certa tendência da máquina funcionar a favor de quem está no poder", ponderou.

Ao mesmo tempo, ela avalia que Boulos "entra definitivamente na cena nacional como um quadro progressista, que veio para ficar". Segundo a professora da PUC-Rio e da UFFRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), o político "fala muito bem" e traz "uma moderação que está em consoante com expectativa que existe hoje de forma difusa na sociedade".

"São Paulo espelha esse momento. A ideia de que as pessoas estão insatisfeitas com o bolsonarismo e, por outro lado, almejam alguém disposto ao diálogo, a sentar com os mais diversos pontos de vista para tentar costurar soluções políticas. Vejo essa habilidade e carisma no Boulos", disse a especialista. 

Boulos teve mais votos do que em 2018

Ex-líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto de São Paulo, Boulos costuma ser atacado por rivais como um invasor de propriedades. Além disso, seu partido, o PSOL, que carrega "socialismo" no nome, é apontado por críticos como sendo uma legenda de ideias extremistas. 

Para o cientista político Carlos Sávio Gomes Teixeira, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense (UFF), a votação de Boulos fez ele se recuperar do resultado "pífio e surpreendentemente negativo" nas eleições presidenciais de 2018, quando terminou com 617.115 votos.

"Agora ele se recoloca no quadro político como uma liderança capaz, com brilho próprio. Essa campanha do segundo turno diminuiu os estigmas que colocavam nele, como um radical, um desrespeitador das regras e das leis", afirmou.
© REUTERS / Amanda PerobelliAlegria tucana: ao lado do governador João Doria, Bruno Covas comemora a vitória nas eleições municipais de São Paulo
Boulos em SP: é possível perder uma eleição, mas sair vitorioso? - Sputnik Brasil
Alegria tucana: ao lado do governador João Doria, Bruno Covas comemora a vitória nas eleições municipais de São Paulo

'Mas tem um limite'

Segundo Sávio, mais ainda do que o número de votos, o processo eleitoral fez com que Boulos saísse maior do que entrou nas eleições. 

"A votação não me surpreendeu. Ele teve mais ou menos os mesmos votos que Fernando Haddad teve na eleição presidencial de 2018 na capital paulista. Isso mantém a força da esquerda, mas tem um limite, que foi a vitória do candidato do PSDB, apesar do desgaste do partido em São Paulo, principalmente do governador João Doria. A postura do Boulos no segundo turno foi importante para agregar a ele uma imagem para que vá além desse voto da esquerda tradicional", refletiu Sávio.

Para a cientista política Clarisse Gurgel, a passagem de Guilherme Boulos para o segundo turno já foi uma vitória, "que fica ainda mais significativa quando o candidato perdura no segundo turno em sua campanha e consegue o resultado que teve, uma diferença de um milhão de votos para alguém que estava disputando a reeleição". 

Mais classe e menos identitarismo

Gurgel enxerga em Boulos alguém com um forte discurso de classe, ao contrário da imagem do PSOL, mais colada em movimentos identitários. Ao mesmo tempo, vê o político como alguém capaz de sanar, segundo ela, um problema enfrentado tanto por esquerda como direita.

"Ele pode ser um nome que resolve uma crise generalizada no Brasil, na direita e na esquerda, que é uma crise de quadros, de nomes que podem assumir a tarefa de ser porta-voz de um projeto social", disse a professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). 

Eleições de pautas locais

Já o cientista político Paulo Baía defende que as eleições municipais têm dinâmica própria, e não servem como uma bússola que aponta o norte político do país. Ele acredita que a vitória de Covas, "que tem uma gestão muito bem avaliada", demonstra que em eleições municipais os "eleitores estão preocupados com a cidade, com a administração". 

"Não faço relação nenhuma entre eleição municipal com o futuro das eleições de 2022. São Paulo tem uma longa história de fidelidade ao PSDB, no estado e cidade, e isso se reproduziu. As forças históricas ganharam as eleições", disse o professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Por outro lado, ele acha que os 40% de votos que Boulos recebeu "mostram o surgimento de uma liderança estadual, de toda região metropolitana de São Paulo, que foi para a periferia e fez uma campanha muito bem feita, com propostas para a cidade". 
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