É negro o autor das ofensas racistas contra a prefeita eleita de Bauru, Suéllen Rosim (partido Patriota). Segundo a Polícia Civil, ele tem 37 anos, foi interrogado nesta quinta-feira (3), mas liberado por falta de fundamentação para uma eventual prisão. Seu nome não foi revelado, informou o jornal Folha de São Paulo.
Ele disse no interrogatório, segundo o delegado Eduardo Herrera, que o objetivo era fazer com que as pessoas de um grupo de uma rede social publicassem comentários similares para mostrar que elas são racistas.
O acusado usou um perfil falso para escrever em uma rede social logo após a vitória de Suéllen no segundo turno no último domingo (29). Segundo ele, a cidade "não merecia ter essa prefeita de cor com cara de favelada comandando a nossa cidade". E que "a senzala estará no poder nos próximos quatro anos".
Recebi conversas de cunho racista feitas em um grupo de WhatsApp e comentários nas redes sociais. Jamais me silenciarei diante de algo tão sério. É inadmissível. Já tomei as medidas judiciais necessárias. Obrigada pelas mensagens de apoio! #racismonão
— Suéllen Rosim (@suellenrosim) November 30, 2020
Primeira mulher eleita em Bauru, negra, frequentadora da igreja evangélica neopentecostal Mipe (Ministério Produtores de Esperança) e conservadora, Suéllen tem 32 anos e é alvo de ataques desde antes da eleição.
No sábado (28), recebeu via mensagem de celular comentários racistas. Já no domingo (29), quando foi eleita, a mensagem foi publicada em outra rede.
No dia seguinte, ela recebeu email com mais frases racistas e uma ameaça de morte.
"Eu juro, mas eu juro que vou comprar uma pistola nove milímetros no Morro do Engenho, aqui no Rio de Janeiro, e uma passagem só de ida para Bauru e vou te matar. Eu já tenho todos os seus dados e vou aparecer aí na sua casa", dizia um trecho do texto.
No mesmo dia, Suéllen viu uma nova manifestação racista que dizia que "países governados por negros são mais miseráveis".
O autor da postagem racista negou ter elo com a ameaça de morte recebida pela prefeita.
"A identificação do autor, para nós, é importante, é a espinha dorsal de tudo. A partir dele houve outras ações, os chamados efeitos colaterais. Acreditamos que, se não tivesse existido essa mensagem, outras depois não apareceriam", disse o delegado.
Herrera disse ainda que não se pode ligar o autor da mensagem ofensiva à ameaça de morte.
"Acreditamos que não seja ele", informou.
Suéllen comentou o episódio. Disse que a identificação dos autores e a responsabilização pelo crime deve ocorrer, não importa o prazo.
"A mensagem é pesada, é uma tentativa de desestruturar mesmo, mas não vão conseguir. O tempo não importa, o que importa é identificar o autor, até para que isso não aconteça com outras pessoas", falou a prefeita eleita.
Suéllen ganhou a eleição com 89.725 votos, 55,98% dos votos válidos contra 44,02% do adversário no segundo turno, o médico e ex-vereador Raul Gonçalves Paula (DEM).