Especialista: relação entre acordos econômicos e questões ambientais é tendência que veio para ficar

© AP Photo / Dario Lopez-MillsVegetação em chamas na floresta Amazônica
Vegetação em chamas na floresta Amazônica - Sputnik Brasil
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Deputados do Parlamento Europeu propõem obrigar que empresas que vendem para a Europa provem que seus produtos foram feitos sem destruição do meio ambiente – o que pode aumentar a pressão internacional sobre o governo Bolsonaro.

No ano que vem, a União Europeia entrará em um debate que pode trazer consequências para o Brasil.

Os deputados do Parlamento Europeu propõem obrigar qualquer empresa que exporte produtos para a União Europeia que prove que "seus produtos não vêm de terras desmatadas" e que forneça informações "transparentes" aos consumidores quanto ao cumprimento dos direitos humanos na cadeia produtiva, segundo noticiado pela AFP.

Helena Margarido Moreira, professora de relações internacionais e pesquisadora de política ambiental global, trata a medida como positiva e acredita que ela vai trazer mais pressão sobre o governo brasileiro quanto à proteção ambiental.

"[Esta pressão] vem crescendo à medida que as taxas de desmatamento da Amazônia, e outros biomas, também crescem. Temos tido notícias há algum tempo de boicotes de mercados europeus a produtos brasileiros advindos de desmatamento [...]. Isto, até o momento, não foi suficiente para fazer com que o governo brasileiro mudasse o rumo de sua política ambiental, que coleciona retrocessos", disse a especialista à Sputnik Brasil.

O relatório do Parlamento Europeu sobre a medida a ser discutida põe foco, inclusive, na devastação dos incêndios na Amazônia. Além disso, cita a importação de, entre outros produtos, soja e carne de boi – duas das principais commodities vendidas pelo Brasil à Europa.

"Mais de 60% da soja brasileira é exportada para a China, o que mostra que a pressão pode ter mais resultados se vinda em conjunto dos nossos maiores importadores de commodities", acrescenta Moreira.

O desmatamento da Amazônia apresentou uma alta de 9,5% no último ano. Segundo o Observatório do Clima, levando-se em conta a média dos dez anos anteriores à posse de Jair Bolsonaro, o desmatamento cresceu 70%

© Folhapress / Lilo ClaretoOperação do Exército em combate aos incêndios na Amazônia em 2019.
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Operação do Exército em combate aos incêndios na Amazônia em 2019.

'Não é simplesmente uma questão de subterfúgios para práticas protecionistas'

A especialista até considera que a possível medida possa demonstrar sinais de protecionismo europeu. Ela lembra que a Europa já utilizou "barreiras fitossanitárias" (o impedimento da entrada de um produto em um país alegando contaminação por bactérias e fungos, por exemplo) como forma de proteger a produção agrícola interna.

No entanto, a professora opina que, neste caso, a preocupação ambiental é o fator primário para a discussão da medida. Ela acredita, inclusive, que a relação entre meio ambiente e questões econômicas é uma tendência que veio para ficar.

"O mundo caminha, de uma forma geral, para economias menos intensivas no uso de combustíveis fósseis. Altas taxas de desmatamento de florestas e mudanças no uso da terra causadas pelas atividades agropecuárias vão na contramão desta tendência. Então creio que não é simplesmente uma questão de subterfúgios para práticas protecionistas, mas sim de uma reorientação das atividades econômicas", avalia Moreira.

A especialista acrescenta ainda que a "defesa da soberania nacional", frequentemente utilizada pelo governo federal como defesa para os ataques em relação à política ambiental, não está sob ameaça.

"[A soberania] não está sob questionamento, não se trata disso. Trata-se de definir alocação de investimentos, inovação tecnológica, adoção de padrões mais altos de sustentabilidade", finaliza Moreira.
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