Uma vez em serviço na Marinha da China, o que possivelmente vai ocorrer em 2021, o novo porta-aviões Type 075 vai se converter na maior embarcação de sua frota. É uma plataforma flutuante projetada não somente para permitir o pouso de até 30 helicópteros a bordo, mas também para liderar uma guerra costeira em espaços disputados, recorda Christian Le Miere, fundador da consultoria de estratégia Arcipel, em um artigo para o jornal South China Morning Post.
Em novembro de 2020, a primeira embarcação Type 075 realizou o segundo ciclo de manobras no mar do Sul da China. Durante seu primeiro ciclo, que ocorreu em agosto de 2020, o Type 075 passou diante do porto de Xangai em sua travessia inaugural.
Mais de uma semana depois da aparição deste navio, Pequim enviou à mesma região três embarcações de assalto anfíbio Type 071. Esta duas atividades representam uma firme manobra diplomática que obteve ainda mais importância do ponto de vista estratégico devido ao curto intervalo entre elas, salienta o autor do artigo.
Mensagem clara para todos
Ainda que os navios de guerra chineses não possam rivalizar com a frota anfíbia dos EUA, nem representem uma ameaça direta ao país norte-americano, podem causar certa preocupação nos Estados do Leste e Sudeste da Ásia, muito dos quais têm disputas territoriais com a China.
"O Type 075 e Type 071 são perfeitos para lançar operações anfíbias em ilhas pequenas e remotas, semelhantes às do mar do Sul da China. Seu complemento de helicópteros pode proporcionar cobertura aérea e de transporte, enquanto as tropas aterrissam nas praias e invadem posições inimigas", escreve o especialista.
Com estas manobras, Pequim pode estar perseguindo dois objetivos, segundo o analista. Por um lado, testar e treinar seu contingente e material bélico, assegurando desta maneira sua instrução adequada para um conflito.
Por outro lado, estas atividades navais são "uma forma muito eficaz de diplomacia marítima". Ou seja, Pequim pode ter buscado mostrar a aliados e rivais suas "intenções, capacidades e decisões". As mensagens enviadas ficaram bastante claras para seus vizinhos, saliente Le Miere.
Uma aproximação não é obstáculo
A recente demonstração de força chega, ironicamente, após uma relativa aproximação diplomática entre a China e outros países chave da região asiática.
Há algum tempo, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, visitou Tóquio e Seul em uma tentativa de aproveitar o impulso causado pela assinatura de um acordo comercial que envolve os três países.
"Desta forma, a China parece estar oferecendo uma cenoura em forma de negociações, enquanto também mostra o bastão de uma possível violência ao acelerar seus exercícios. Porém, não se deve ter ilusões. Com o novo Type 075, a China está construindo uma Marinha equipada para combater e ganhar guerras anfíbias em toda região", adverte o autor.
Para os países pequenos e médios da região, estes navios de grande porte representam uma "lembrança clara da crescente assimetria de poder" que enfrentam nas negociações com Pequim sobre suas disputas territoriais, conclui o analista.