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Cientista político: corrupção no Brasil não acabou, presidente que virou vidraça

© Foto / Marcos Correa / PRJair Bolsonaro, presidente do Brasil, participa de fórum de combate à corrupção em Brasília, 9 de dezembro de 2020
Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, participa de fórum de combate à corrupção em Brasília, 9 de dezembro de 2020 - Sputnik Brasil
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Em entrevista à Sputnik Brasil por ocasião do Dia Internacional contra a Corrupção, o cientista político Rodrigo Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, analisou por que esse tema perdeu força no debate político brasileiro nos últimos tempos.

Celebra-se nesta quarta-feira (9) o Dia Internacional contra a Corrupção, tema que perdeu protagonismo no debate político do Brasil nos últimos meses, em parte, por conta da pandemia da COVID-19, que tem ocupado um espaço de grande destaque nas discussões não apenas por aqui, mas também em outras partes. 

Em 2019, o Brasil atingiu a sua pior colocação na série histórica do Índice de Percepção da Corrupção da Transparência Internacional, principal indicador de corrupção no setor público do mundo. Com o quinto recuo anual, o país passou a ocupar a posição de número 106 em uma lista de 180 países analisados, com apenas 35 pontos — em uma escala que vai de zero a 100, na qual, quanto menor a nota, mais o país é percebido como corrupto.

Recentemente, o presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, ministro Luiz Fux, chamou a atenção para o problema, afirmando que um dos principais obstáculos para o combate à corrupção seria o perigo da indiferença em relação à prática criminosa. E o presidente da República, Jair Bolsonaro, por sua vez, ao comentar o suposto fim da operação Lava Jato, disse que a corrupção havia acabado com a instalação do seu governo, não tendo mais nada a ser investigado. 

​Em 2018, na eleição presidencial, o tema da corrupção foi, possivelmente, o mais abordado no pleito vencido por Bolsonaro, que se apresentou como o único capaz de enfrentar esse problema, frequentemente identificado com a chamada velha política. Eleito, o então chefe de Estado manteve o discurso de integridade da sua gestão, de seus indicados, familiares e aliados. Mas, passados quase 24 meses do início da atual administração, o cenário mudou de maneira muito significativo, como explica, em entrevista à Sputnik Brasil, o cientista político Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.

"A gente sabe que, passados dois anos do governo Bolsonaro, existem processos, investigações no Supremo Tribunal Federal, existem desconfianças e investigações que chegam aos filhos do presidente. E isso o incomoda profundamente. E a gente sabe que um dos pilares que simbolizava o combate à corrupção, que foi ministro, o Sergio Moro, juiz da Lava Jato, saiu do governo, foi defenestrado do governo."

Além das denúncias, investigações em curso e debandada de Moro, o especialista aponta que a "tão condenada velha política, hoje, é a base do governo Bolsonaro", devido à aliança com o centrão. 

"Então, no fundo, aqueles arroubos de oratória inflamados contra a corrupção, contra a esquerda, contra o PT [Partido dos Trabalhadores], contra Lula perderam o sentido porque, agora, o presidente Bolsonaro deixa de ser aquela pedra para se tornar também uma vidraça. Ele está em evidência." 

Para o professor, é natural que, atualmente, a pandemia acabe centralizando as atenções. Mas esta não é, segundo ele, a responsável pela perda de espaço do combate à corrupção na agenda política nacional. Esta, inclusive, continua também em associação com o surto do novo coronavírus, como observado nos escândalos envolvendo compra de equipamentos, construção de hospitais de campanha e contratos emergenciais.

"A pandemia, ela acabou chamando a atenção, mas, mesmo durante a pandemia, as práticas de corrupção, do corruptor, daquele que corrompe, daquele que é corrompido, elas não terminaram", afirma. 

​Nas eleições municipais realizadas no mês passado, os eleitores, de acordo com Prando, mostraram pouco entusiasmo com os discursos mais polarizadores, apostando mais em políticos com "experiência" e "capacidade administrativa" para resolver os problemas locais, problemas que, certamente, aumentarão com o fim da pandemia. Isso, para o acadêmico, explica por que o tema da corrupção não foi escolhido como mobilizador pelos candidatos, por conta de um cenário mais favorável ao debate de questões mais práticas do dia a dia nas cidades. 

Essa não predominância do tema no debate público, no entanto, não deve diminuir a importância desse problema para o sistema democrático, ainda mais porque, no Brasil, segundo o professor, existe uma cultura de condescendência para com as práticas de corrupção. 

"Muitas vezes — e já foram realizadas pesquisas —, o cidadão indignado condena aquele que pratica corrupção. Mas, muitas vezes, se estivesse naquela condição, diz que faria de tudo para conseguir o melhor espaço, as melhores funções para seus familiares, para quem ele conhece. Então, assim, existe uma cultura nacional, uma cultura política que, muitas vezes, é condescendente, é leniente com relação à corrupção. E nós temos que combater." 

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