Com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de vetar a reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ), o futuro da presidência da Câmara dos Deputados fica em aberto.
Nesta quarta-feira (9), foram formados dois blocos principais para a disputa da presidência da Câmara. O deputado federal Arthur Lira (PP-AL) — aliado do presidente Jair Bolsonaro — lançou sua candidatura, com o apoio do centrão: PL, PP, PSD, Solidariedade e Avante.
Para fazer frente a Lira, seis partidos se uniram a Rodrigo Maia, atual presidente da Câmara: DEM, PSL, MDB, PSDB, Cidadania e PV. Este grupo reúne 163 deputados e deve anunciar o candidato até o próximo sábado (12).
Paulo Gracino Júnior, professor de Sociologia Política do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, prevê uma disputa "muito parelha" entre estes dois grupos. O especialista analisa que, contra os 163 deputados de Maia, Lira soma 160 – ou seja, a disputa está em aberto.
"Na verdade a eleição não tem maioria [para nenhum lado]. Se forem só estes dois candidatos, teríamos que esperar o alinhamento de forças", analisa Gracino.
"É provável, pelo histórico que a gente tem visto, principalmente pelo Orlando Silva costurando [alianças] pelo lado da esquerda, que este bloco dos partidos de esquerda se afine com o bloco liderado pelo Rodrigo Maia", opina Gracino.
No entanto, ele ressalva: a escolha de quem será o candidato do grupo de Maia será determinante para contar ou não com o apoio da esquerda.
"Há nomes indigestos para os partidos de centro-esquerda, como Baleia Rossi (MDB-SP), Luciano Bivar (PSL-PE) e Marcos Pereira (Republicanos-SP), que é bispo da Igreja Universal", diz Gracino.
O cenário político para Jair Bolsonaro
Em uma eventual vitória de Arthur Lira, Gracino acredita que Bolsonaro teria mais facilidade para aprovar questões importantes para manter a popularidade entre seu eleitorado. Como exemplo de medidas como esta, ele cita a isenção de tarifas para importar armas.
No entanto, o especialista vê Lira como um presidente da Câmara que não teria "compromisso" com questões econômicas, como "meta fiscal ou superávit primário". Desta forma, ele acredita que a "ala do mercado", que já está em retração no governo Bolsonaro, ficaria ainda mais diminuta.
"Se o Paulo Guedes reclama do Maia, ele reclamaria ainda mais de um Arthur Lira na presidência. As questões de privatizações seriam dificultadas ao extremo, porque o centrão quer cargos nestas estatais, e sem estatais não há cargos", diz Gracino.
Por outro lado, caso o candidato de Maia vença, Gracino analisa que o cenário para Bolsonaro vai depender do nome quer for lançado como candidato à presidência da Câmara.
O professor acredita em um candidato de centro-direita que fortaleça o centro, garanta novo fôlego para Paulo Guedes e que enfraqueça o poder do presidente.
"Dependendo de quem for o eleito, é possível que se veja um trabalho de apaziguamento da polarização política, porque eles sabem que quem ganha com a polarização são o PT e o Bolsonaro", finaliza Gracino.