Nesta quinta-feira (10), o Instituto Estatal de Língua Russa Pushkin, apresentou o resultado de sua pesquisa anual sobre a posição da língua russa no mundo, na qual calcula o índice de competitividade global do idioma.
O relatório examina não só o número de falantes nativos da língua, mas também a quantidade de sites na Internet, número de veículos de mídia e de publicações científicas no idioma.
De acordo com os parâmetros da pesquisa, o russo é a quinta língua mais influente do mundo, à frente do português, árabe e alemão.
A língua que obteve melhor desempenho no estudo foi o inglês, seguido do espanhol, francês e chinês.
Mas como o russo se destaca das demais línguas mundiais? E qual o seu grau de inserção no Brasil?
Língua russa no mundo
A língua russa enfrenta desafios para manter a sua posição de língua de comunicação internacional.
Apesar dos países da ex-União Soviética continuarem utilizando o idioma em instituições de ensino, a competição com idiomas nacionais é acirrada.
Em número de falantes nativos, o russo segue como o oitavo maior idioma do mundo, com 258 milhões de usuários da língua. O português está em nono lugar, com 252 milhões.
No entanto, o russo realmente se destaca quando o assunto é a Internet. Em número de sites no idioma, o russo ocupa o segundo lugar desde 2013, atrás somente do inglês.
"A posição da língua russa na Internet é bastante positiva", disse a coordenadora de pesquisadora do Instituto Pushkin, Maria Lebedeva, durante conferência de imprensa.
"Uma comunidade de Internet que não é tão grande em número de pessoas conseguiu formar uma quantidade de sites significativa na 'runet' e colocar o russo em segundo lugar", disse Ledebeva.
O termo "runet" se refere à comunidade de Internet russa, que conta com empresas nacionais de relevância, como o buscador Yandex, o conglomerado Mail.ru e a rede social VKontakte.
"Os sites em língua russa também são maioria nas redes de outros países, como a Ucrânia, Cazaquistão, Bielorrússia e Uzbequistão", revelou Lebedeva. "Nesses países, os sites em russo representam entre 60% a 85% do total, um número bastante elevado."
A língua russa também se destaca em número de artigos acadêmicos publicados no idioma. Com 57.599 artigos publicados em 2019, a sua maioria em áreas como medicina e engenharia, o russo ocupa o quinto lugar.
"Apesar de o status da língua russa como patrimônio comum na educação básica levantar dúvidas, na academia, a língua russa segue como língua unificadora", disse o pró-reitor de ciências do Instituto Pushkin, Mikhail Osadchy.
Globalmente, a língua inglesa é a líder isolada em número de publicações científicas, com mais de seis milhões de artigos publicados em 2019, contra 96 mil do segundo colocado, o chinês.
"Compreendemos que, no mundo globalizado, existe uma língua internacional da ciência, que facilita o contato entre pesquisadores", disse Osadchy. "Mas não deixa de ser um fator de preocupação para a posição da língua russa no mundo."
"Precisamos encontrar um meio-termo, como promover a publicação de versões russas de artigos em inglês escritos pelos nossos autores", propôs o pró-reitor.
Nesse parâmetro, o português encontra-se em sétimo lugar, com cerca de 24.750 artigos publicados em 2019.
Russo no Brasil
No Brasil, o perfil de alunos empenhados em aprender o idioma russo é cada vez mais variado.
Durante a pandemia, o Instituto Valeeva Rosa se destacou pelo investimento pesado em novas tecnologias de ensino a distância e redes sociais.
"No começo, a maioria dos nossos estudantes eram intelectuais e linguistas [...], pessoas que têm interesse em [autores russos] como Fiódor Dostoiévski, Lev Tolstói, Mikhail Bulgákov e Mikhail Bákhtin", disse o professor de russo Felipe Valeeva Rosa à Sputnik Brasil.
Dentre os jovens, "muitos têm o sonho de estudar em universidades russas, [...] em cursos como medicina e engenharia", relatou Felipe.
Os professores também identificam alunos que nutrem certa simpatia pelo passado soviético ou veem a Rússia como um país capaz de conter os EUA na arena internacional.
"Os estudantes de russo se cansaram dos EUA e da Europa, já conhecem a cultura desses lugares", conta Felipe. "Nesse sentido, a Rússia vem como o sonho de algo novo."
Além da política, "tenho alunos que querem estudar russo por conta do desenvolvimento da Rússia no ramo da informática", disse o professor.
"Temos alunos que admiram os programadores russos", disse a professora Roksana Valeeva Rosa à Sputnik Brasil. "Eles querem aprender o idioma para poder entender os cursos que programadores russos disponibilizam de graça no YouTube."
Para ampliar o acesso ao idioma, o Instituto Valeeva Rosa montou um curso do idioma on-line de baixo custo, chamado "Democratizando o Russo".
"Com o projeto 'Democratizando o Russo' vieram alunos com perfis mais variados, que, se por um lado nem sempre tem conhecimento da base gramatical, por outro tem mais tempo para estudar", disse Roksana à Sputnik Brasil.
Os alunos que buscam esse formato estão mais interessados em atingir um bom nível de conversação em russo.
Segundo Felipe, os alunos do "Democratizando" querem aprender o russo para "se tornar poliglotas" ou melhorar a dinâmica de seus relacionamentos.
"Tenho um aluno que é casado e tem filhos com uma russa", contou Roksana. "O sonho dele é poder ler livros infantis em russo para a sua filha."
Roksana sente-se à vontade com o ensino de um russo menos "acadêmico", voltado mais para a "vida real".
"Gosto de formular exercícios baseados naquilo que eu vi e vivi na minha experiência em São Petersburgo", disse a professora. "Frases que usamos todos os dias."
O enfoque na conversação, no entanto, não diminui o nível de engajamento demandado para aprender o idioma.
"Eu sou bem realista com os meus alunos, digo que, sim, é [um idioma] difícil, que dá para aprender tranquilamente, mas precisa estudar", alertou Felipe.
Segundo Roksana, em cerca de um ano, o aluno atinge o nível de conversação necessário para poder conhecer a Rússia falando o idioma.
Nesta quinta-feira (11), o Instituto Estatal de Língua Russa Pushkin apresentou durante conferência de imprensa seu relatório anual sobre a posição da língua russa no mundo, que calcula o índice de competitividade dos principais idiomas globais.