Segundo ele, será a primeira conexão direta entre a América Latina e a Europa com cabos submarinos de fibra ótica de alta capacidade. A instalação marítima de seis mil quilômetros de cabos ligando Fortaleza a Sines está prevista para ser concluída no segundo trimestre de 2021, com o objetivo de melhorar o desempenho das plataformas de telecomunicações.
Com a conectividade de alta velocidade entre os dois continentes, negócios digitais, serviços em nuvem, banco eletrônico, mídia de entretenimento e jogos se beneficiarão com a chegada do cabo a Fortaleza, no Ceará, segundo Diego Matas, diretor de operações (COO) da EllaLink. "Além de Fortaleza, EllaLink também estará conectada com os principais centros de São Paulo e Rio de Janeiro. Os pares de fibra direta fornecem um caminho de baixa latência e formam uma base sólida sobre a qual operadoras, operadores e provedores de conteúdo da Internet poderão desenvolver ofertas competitivas", explica Matas.
A inauguração da rede também é uma aposta alta de Portugal para a presidência rotativa do Conselho da União Europeia (UE), que ficará a cargo do país entre janeiro e junho de 2021. Na semana passada, durante a última reunião virtual dos ministros das Telecomunicações da UE, sob a atual presidência alemã, Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas de Portugal, destacou a ligação por cabo com o Brasil como ponto alto para os objetivos prioritários da transição digital da Europa e a consolidação de um mercado único digital.
"O momento alto desta estratégia será assinalado pela inauguração do cabo submarino EllaLink, que liga o continente sul-americano à Europa, através da ligação de Fortaleza, no Brasil, a Sines, em Portugal, o que será mais um passo rumo ao fortalecimento da conectividade internacional da UE", lê-se na nota divulgada pelo gabinete de Nuno Santos.
No fim de novembro, durante uma conferência na Universidade Católica de Portugal, o primeiro-ministro António Costa, já havia apontado o cabo submarino entre Fortaleza e Sines como um dos marcos da quarta presidência portuguesa do Conselho da UE.
"Haverá, em junho, um momento simbólico muito importante, que será a amarração, em Sines, de um grande cabo submarino, o EllaLink, ligando o continente europeu ao americano. Marcará simbolicamente aquilo que tem sido sempre a função tradicional de Portugal como plataforma de ligação aos outros continentes", disse Costa na ocasião.
De acordo com o Ministério das Comunicações do Brasil, o cabo novo tem uma capacidade de armazenamento sete mil vezes maior do que o atual, e o projeto custará em torno de R$ 1 bilhão. Diante da alta expectativa de Portugal, o COO da EllaLink diz que o cronograma está em dia mesmo com os percalços da pandemia de COVID-19 quando questionado por Sputnik Brasil se há alguma hipótese de atrasar a inauguração do cabo. Leia a íntegra da entrevista a seguir.
Sputnik: Por que Sines foi escolhido como ponto estratégico de ligação com o Brasil?
Diego Matas: Você não escolhe um local para ancorar um cabo por um único motivo. No entanto, a seleção do local envolve avaliações técnicas muito detalhadas. Sines é, na verdade, o local mais conveniente, mais seguro e, finalmente, o mais próximo para aterrar um cabo do Brasil. Além das considerações técnicas, a neutralidade e a diversidade de ancoragem são valores essenciais para garantir seus 25 anos de operação no futuro.
Qual é a importância do Brasil como mercado consumidor e fornecedor de conteúdo digital para a Europa, principalmente para Portugal, Espanha e França?
O Brasil gera quase 60% do tráfego internacional de conteúdo digital da América Latina. Investimentos significativos foram feitos por gigantes globais de tecnologia no Brasil – e um exemplo é o aumento do uso de aplicativos em tempo real sensíveis à latência, como streaming ao vivo e jogos. Com isso, a EllaLink, com seu serviço de alta capacidade e baixa latência, terá um grande impacto no mercado global de IP e no modelo de entrega de TI corporativa. A redução dramática na latência fornecida pela rota EllaLink (da ordem de 50%) oferece uma maneira totalmente nova para o mundo corporativo definir a arquitetura de sua camada de aplicação para empresas presentes na Europa ou na América Latina.
Como o cabo pode ajudar o Brasil a se preparar para a implantação da Internet de alta velocidade 5G?
A tecnologia 5G promete aos usuários finais um rendimento incomparável combinado com menor latência de acesso. Os provedores de rede terão que atender a esses requisitos. A EllaLink, do lado da infraestrutura de cabos submarinos, está pavimentando o caminho para atender à variedade de novas aplicações que o 5G trará ao mercado.
O ministro das Infraestruturas de Portugal, Pedro Nuno Santos, classificou o lançamento do EllaLink como o "momento alto" do programa digital da quarta presidência portuguesa do Conselho da União Europeia, entre 1º de janeiro e 30 de junho. Como é a responsabilidade de trabalhar sob essa forte expectativa? Há alguma hipótese de atrasar o lançamento?
Um projeto submarino envolve logística e engenharia de alta complexidade. Exigem vários anos de desenvolvimento, planejamento e construção. A EllaLink está agora chegando à última fase do projeto de instalação da rota marítima, que começou hoje [segunda], em Fortaleza, com a ancoragem do sistema de cabo. Apesar dos problemas causados pela pandemia da COVID-19, nosso cronograma está em dia, ou seja, estamos planejando entrar em operação no segundo trimestre de 2021.
O senhor pode falar mais sobre as comunidades de pesquisa e educação que se beneficiarão da ligação direta entre os dois continentes fornecida pela EllaLink? Como serão beneficiadas? Há comunidades no Brasil e Portugal já escolhidas? Quais?
O Consórcio Bella [Building the Europe Link to Latin America], formado pelas redes de pesquisa e educação Géant [Europa] e RedClara [América Latina], está entre nossos principais clientes. O Consórcio Bella envolve a Rede Nacional de Pesquisa [RNP], do Brasil, e outras Redes Nacionais de Pesquisa e Educação [NRE] de países como Chile, Colômbia, Equador, França, Alemanha, Itália, Portugal e Espanha – e sua parceria com a EllaLink beneficiará comunidades de pesquisa e educação nos dois continentes. Além dos serviços de telecomunicações normais, criamos com a EMACOM e as NRE o projeto científico EllaLink GeoLab, para melhor direcionar essa aproximação. O EllaLink GeoLab é uma iniciativa que dedica parte importante da estrutura da plataforma aos interesses da comunidade científica internacional. A EllaLink, por isso, vai muito além de beneficiar apenas o setor de telecomunicações. Na prática, isso significa repassar informações precisas, relevantes e em tempo real a pesquisadores das áreas de vulcanologia, sismologia, ecologia marinha e condições oceânicas em geral. A iniciativa abre novas oportunidades para as ciências que se dedicam à observação dos fenômenos naturais. Como consequência, é mais uma importante ferramenta de preservação do meio ambiente e das condições de vida da população global.
Como o consumidor final pode ser beneficiado com a qualidade e o preço dos serviços ligados ao cabo?
O sistema EllaLink foi projetado para atender às demandas crescentes do mercado latino-americano, fornecendo conectividade contínua de alta velocidade, impactando de forma positiva, e sem precedentes, todas as plataformas de telecomunicações. A rota direta de EllaLink facilitará a redução de RTD [Round Trip Delay] entre o continente europeu e a América Latina, ocasionando um grande impacto no mercado global de IP e no modelo de entrega de TI corporativa. A redução extraordinária na latência fornecida pela rota EllaLink, na ordem de 50%, oferece uma maneira inteiramente nova para o mundo corporativo definir a arquitetura de sua camada de aplicação para empresas presentes na Europa ou na América Latina, que, por sua vez, cria uma mudança de paradigma para a infraestrutura de data center usada para implementação de aplicativos. Assim, negócios digitais, serviços em nuvem, banco eletrônico, mídia de entretenimento e jogos se beneficiarão com a chegada do cabo EllaLink a Fortaleza, no Ceará. Além de Fortaleza, EllaLink também estará conectada com os principais centros de São Paulo e Rio de Janeiro. Os pares de fibra direta fornecem um caminho de baixa latência e formam uma base sólida sobre a qual operadoras, operadores e provedores de conteúdo da Internet poderão desenvolver ofertas competitivas.