O Uruguai espera, a médio prazo, produzir uma nova variedade de maconha para uso não medicinal com maior percentual de tetrahidrocanabinol (THC) e aumentar a produção para atender à demanda por cannabis mais forte, afirmou à Sputnik na terça-feira (15) o presidente do conselho de administração do Instituto de Regulação e Controle do Cannabis e secretário do Conselho Nacional de Drogas do país, Daniel Radío.
"Acho que em breve teremos de introduzir uma nova variante [da maconha], espero que com um conteúdo mais alto de THC e menos canabidiol [CBD], e é nisso que estamos trabalhando [...]. Não significa que no curto prazo iremos ter na farmácia porque envolve cultivo e um processo, mas imagino que a médio prazo vamos ter um novo produto na farmácia com maior teor de THC e menos CBD", garantiu Radío.
A variedade que se vende atualmente nas farmácias do Uruguai tem um percentual de THC, seu principal componente psicoativo, menor ou igual a 9%, mas também possui alto teor de CBD que atua como modulador dos efeitos do THC. "Alguns usuários não gostam e param de comprar", reconhece Radío.
Turismo e exportação
O Uruguai iniciou este ano sua trajetória de exportação de cannabis para uso medicinal e cânhamo industrial, e espera continuar crescendo nesta área, para a qual apostará na qualidade, disse Radío, que frisou também que apostando na qualidade da cannabis para uso medicinal, o país poderá transcender o teto que a competição do mercado vai impor, algo que será muito forte na indústria do cânhamo, já que são muitos os países que produzem na América Latina e na Europa.
"O Uruguai tem um prestígio que acumulou ao longo da vida no que se refere à qualidade, [por isso] não pode ser negligenciado neste assunto", explicou o secretário.
Em relação à cannabis turística, ou seja, disponível para estrangeiros que chegam ao Uruguai com a intenção de usar a maconha para fins recreativos, Radío confessa que é uma possibilidade a ser estudada.
"Acho que em algum momento da história nos parecerá estranho que tenhamos questionado isso, e acho que, no longo prazo, deveria ser uma coisa normal ir para outro país onde há uma regulamentação do mercado de cannabis e poder consumi-la. Hoje a regulamentação que temos não permite, existe um decreto que estabelece quem pode ter acesso e os turistas não", diz Radío.
Por isso, o secretário comenta que viabilizar o consumo para os turistas envolve questões técnicas, como quem vai produzi-lo, que características terá e onde será vendido, mas também políticas.
"Todas essas são questões que devem ser resolvidas, mas antes disso é preciso tentar fazer um levantamento político, pois são determinações que geram sensibilidade na opinião pública [...]. Pretendo avançar nisso enquanto há um consenso político suficientemente amplo e não se restringe eventualmente à coligação de governo, para que tenha continuidade", explicou.
Recentemente completou sete anos desde a aprovação da Lei 19.172, pela qual o Estado uruguaio assumiu a produção, comercialização e distribuição da maconha, que após um longo processo de regulamentação, em 2017 começou a ser vendida nas farmácias.