Em um discurso recente à nação, o rei Carl XVI Gustaf, de 74 anos de idade, descreveu 2020 como um ano terrível, enfatizando que a Suécia não conseguiu salvar vidas durante a disseminação do novo coronavírus.
"Acredito que falhamos. Temos um grande número de pessoas que morreram, e isso é terrível. É algo que todos nós sofremos juntos", disse ele, monarca desde 1973.
"O povo sueco tem sofrido enormemente, em condições difíceis. Você pensa em todas as pessoas que foram incapazes de dizer adeus a seus familiares falecidos. Acho que é uma experiência pesada e traumática não poder dizer um adeus caloroso", acrescentou sobre as restrições de saúde pública, citado pela emissora nacional SVT.
A declaração do rei sueco levantou algumas críticas.
"É surpreendente e incomum que ele fale desta maneira. De acordo com a Constituição, seu papel é ser uma figura simbólica, não falar politicamente. É claro que isto terá um impacto", criticou Henrik Wenander, professor de Direito Público da Universidade de Lund, à SVT.
Johan T. Lindwall, editor-chefe do jornal Svensk Damtidning, também ficou surpreso com a declaração do monarca.
"Estou surpreso que ele, em seu papel de chefe de Estado, faça uma declaração tão forte. Será interpretado como uma crítica ao atual governo, que tem a responsabilidade final pela estratégia", disse Lindwall, lembrando o tsunami de 2004 no Sudeste Asiático como a última vez em que um rei teceu comentários críticos. Desde 1974, o cargo de rei sueco é limitado a um papel cerimonial.
Estado da pandemia na Suécia
A Suécia, um país com pouco mais de dez milhões de habitantes, registrou mais de 350 mil casos da COVID-19, de acordo com a Universidade Johns Hopkings, EUA. Cerca de 90% dos 7.802 suecos que tiveram mortes atribuídas à COVID-19 têm 70 anos ou mais de idade. Metade desses vivia em moradias especializadas.
De acordo com o relatório da Comissão Corona, publicado na sexta-feira (11), o cuidado aos idosos há muito tempo sofre grandes deficiências estruturais, e estava "mal equipado" para lidar com uma pandemia. A comissão observou que o governo tem a responsabilidade final pelo fracasso da estratégia para proteger os idosos até o momento, observou a Rádio Sueca.
Entre outras coisas, não havia uma visão geral nacional da preparação dos municípios e as autoridades estatais por não tentarem criar um plano abrangente para enfrentar uma pandemia. As medidas tomadas pelo governo sueco e suas agências no segundo trimestre deste ano chegaram tarde demais e foram insuficientes, de acordo com o relatório.
"O cuidado com os idosos foi deixado em grande parte sozinho para lidar com a situação de crise", escreveu a comissão.
Em novembro, o país nórdico, que há muito se destacou do resto do mundo em sua abordagem relaxada para combater o coronavírus, sem lockdowns, e na maioria das vezes se limitando a recomendações, viu seu maior excesso de mortalidade desde a gripe espanhola de 1918.
Com a COVID-19 sendo a terceira maior causa de morte, atrás apenas do câncer e de doenças cardiovasculares, o governo sueco passou de recomendações para proibições explícitas, com um novo lote de restrições sendo introduzido no final de novembro.