O ataque ocorreu no vilarejo de Bekoji, no condado de Bulen, na zona de Metekel, uma região habitada por diversos grupos étnicos, informou a Comissão Etíope de Direitos Humanos em comunicado.
Segundo a agência Reuters, Gashu Dugaz, um oficial sênior de segurança regional, disse que as autoridades tinham ciência do ataque em Benishangul-Gumuz e estavam verificando as identidades dos agressores e das vítimas, mas não deram mais informações.
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— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) December 16, 2020
A região é o lar do povo Gumuz, mas, nos últimos anos, agricultores e empresários da região vizinha de Amhara começaram a se mudar para o local, o que levou alguns Gumuz a reclamar que terras férteis estavam sendo tomadas pelos novos moradores.
Alguns líderes de Amhara estão dizendo agora que parte das terras na região - especialmente na zona de Metekel - pertence a eles por direito, alegações que irritaram o povo Gumuz.
"Em ataques anteriores, os responsáveis eram pessoas que vinham da 'floresta', mas, neste caso, as vítimas disseram conhecer os envolvidos no ataque", disse a comissão de direitos humanos na nota.
Um agricultor disse à Reuters que contou 82 cadáveres em um campo perto de sua casa após a ação de quarta-feira (23). Ele relatou que tentou fugir do ataque, mas acabou baleado. Além disso, sua esposa e cinco de seus filhos foram mortos, enquanto outras quatro crianças conseguiram escapar e agora estão desaparecidas.
Outro morador da cidade disse que homens armados invadiram a área por volta das 6h locais (0h em Brasília). Ele revelou à Reuters que contabilizou 20 corpos em um local diferente, mas também acabou baleado pelos atiradores.
Um médico local disse que ele e seus colegas atenderam 38 feridos, a maioria com ferimentos a bala. Alguns pacientes lhe contaram que parentes tinham sido assassinados a facadas e que os atiradores incendiaram casas e dispararam contra as pessoas que tentavam escapar.
"Não estávamos preparados para isso e estamos sem medicamentos", disse à Reuters uma enfermeira da mesma unidade, que acrescentou que uma criança de cinco anos morreu durante o transporte para a clínica.
O ataque acontece um dia depois que o primeiro-ministro Abiy Ahmed, o chefe do Estado-Maior militar e outros funcionários do alto escalão do governo federal visitaram a região para pedir calma após vários incidentes que resultaram em mortes nos últimos meses, como um ataque ocorrido em 14 de novembro, no qual atiradores alvejaram um ônibus e mataram 34 pessoas.
The desire by enemies to divide Ethiopia along ethnic & religious lines still exists. This desire will remain unfulfilled. In discussions with residents of Metekel, the expressed will of our people for unity, peace, development and prosperity far outweighs any divisive agenda. pic.twitter.com/DYlnCNH0tc
— Abiy Ahmed Ali 🇪🇹 (@AbiyAhmedAli) December 22, 2020
O desejo dos inimigos de dividir a Etiópia em linhas étnicas e religiosas ainda existe. Esse desejo não será realizado. Em conversas com os moradores de Metekel, a vontade manifestada por nosso povo de união, paz, desenvolvimento e prosperidade é muito maior que essa agenda de divisão.
A Etiópia tem enfrentado surtos regulares de violência desde que Abiy assumiu o governo em 2018 e acelerou as reformas democráticas que afrouxaram o controle do Estado sobre as rivalidades regionais. Com a proximidade das eleições, que acontecerão em 2021, as tensões latentes sobre terra, poder e recursos inflamaram ainda mais.