Embora muitos países do mundo e na América do Sul, tais como Argentina, Chile, Brasil e México tenham acesso adequado a vacinas, países mais pobres da América Latina têm sérios problemas nessa área, argumenta César Pay y Miño, médico e diretor do Centro de Pesquisa de Genoma da Universidade Autônoma UTE do Equador, à Sputnik.
"Há vários países que estão em uma situação crítica, a América Central não tem um verdadeiro plano de vacinação, e o mesmo se aplica aos países menores e mais pobres da América do Sul, como Equador, Peru e Paraguai", contou.
A região está em crise. De acordo com a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), sua economia cairá 7,7% em 2020, o pior desempenho em 120 anos.
Diante desta situação, existe certa "responsabilidade" por parte dos fabricantes de vacinas, disse Pay y Miño.
"No início foi dito que os preços seriam muito acessíveis, que custariam entre US$ 3 [R$ 15,65] e US$ 5 [R$ 26,08]. Mas quando a vacina apareceu, os preços estavam entre US$ 20 [R$ 104,34] e US$ 40 [R$ 208,67] para as duas doses. Assim, os países pobres são confrontados com a necessidade de gastar preços exorbitantes em relação à sua população e à sua economia, se é que querem cobrir 60% [da população]", acrescentou.
Mundos diferentes
Segundo o acadêmico, a desigualdade regional na América Latina persiste.
"A América Latina está mais uma vez polarizada entre as economias mais fortes e mais fracas. Isto mostra que as parcerias entre países foram muito importantes para se ter acordos muito mais equilibrados com as fabricantes, mas a colaboração não foi bem-sucedida", comenta.
Pay y Miño detalhou que, no caso da Venezuela, existe um plano de imunização que começará no segundo trimestre de 2021, enquanto Cuba está trabalhando com suas próprias vacinas e tem uma forte aliança com a Rússia.
O Brasil tem previsto o início da vacinação contra a COVID-19 para final de janeiro em grupos de risco, e no resto da população em fevereiro.
Na quinta-feira (24), o governo argentino começou a distribuir Sputnik V, a vacina contra o COVID-19, que chegou no mesmo dia em um voo vindo de Moscou, e espera que entre domingo (27) e segunda-feira (28) todo o país tenha as respectivas doses.
O presidente chileno Sebastián Piñera recebeu o primeiro carregamento de 10.000 doses de vacina do laboratório americano Pfizer na quinta-feira (24), para imunizar profissionais de saúde.
O governo do México também iniciou a campanha nacional de vacinação contra a COVID-19 na quinta-feira (24), após receber o produto da Pfizer, desenvolvido pela empresa alemã BioNtech.
Enquanto isso, Paraguai, Uruguai, Equador e Peru estão tentando realizar negociações individuais com as fabricantes, sem ainda ter chegado a um acordo. Anteriormente, a Covax Facility, responsável por assegurar o acesso mundial a vacinas, informou que elas poderiam chegar no primeiro trimestre de 2021.