Hamilton Mourão testou positivo para COVID-19 no último domingo (27) e está em isolamento no Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-Presidência. Os sintomas foram dor no corpo, dor de cabeça e febre de 38 graus.
Para o cientista político Leonardo Barreto, o vice-presidente acabou sendo contagiado pelo novo coronavírus no período das festas de fim de ano, e sua ausência não deve impactar o cotidiano político de Brasília.
"Ele pegou COVID-19 em um período em que a política aqui em Brasília já fica de lado, o Congresso está fechado, os parlamentares e até os ministros experimentam algum tipo de férias, tanto é que o presidente Bolsonaro está falando praticamente sozinho neste momento, sem aquele contraponto habitual que Maia faz e que outros fazem. Acaba que as pessoas não vão perceber tanto a ausência de Mourão", disse à Sputnik Brasil.
Mourão é a 16ª autoridade de alto escalão do governo a ser contaminado pela COVID-19, em uma lista que inclui o presidente Jair Bolsonaro, que teve a doença em julho e ficou três semanas em isolamento.
Além dele, 14 ministros já foram contaminados desde o início da pandemia. Os primeiros foram Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, e Bento Albuquerque, de Minas e Energia, ambos diagnosticados depois da viagem presidencial a Miami, em março.
Em pautas como vacina e vendas de terras para estrangeiros, ausência poderia ser sentida
Diferente do presidente Jair Bolsonaro e da maior parte de seus ministros, Mourão costumava usar máscara nos eventos em que participava pessoalmente. Além disso, o vice-presidente atuou como uma espécie de "conciliador" dos atritos que Bolsonaro e sua família criaram ao longo do mandato.
Mourão já demonstrou ser avesso a algumas posições do presidente, como no caso da transferência da embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, na rejeição à indicação de Ilona Szabó para o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) e na discussão sobre uma possível intervenção brasileira na Venezuela.
"A polêmica da vez é a vacina, como ela vem, a que velocidade ela vem, que tipo de imunizante será. Bolsonaro perde um pouco o contraponto que ele tinha no vice no momento em que está ocorrendo essa discussão. Agora, como esse processo de debate tem acontecido muito virtualmente, pode ser que Mourão continue ativo, mesmo convalescendo da doença", analisou.
Outro ponto em que a ausência de Mourão poderia ser sentida, segundo Barreto, é com relação ao possível veto do presidente Bolsonaro ao projeto que permitia compra de terras brasileiras por estrangeiros.
O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quinta-feira (24) que vetará o PL 2.963 que foi aprovado no dia 15 dezembro pelo Senado e que permite a compra de áreas rurais por pessoas físicas e jurídicas de outros países. O projeto vai começar sua tramitação na Câmara dos Deputados. "Qual país você acha que vai comprar aqui se esse projeto for aprovado na Câmara? Acha justo vender terras para estrangeiros?", questionou o presidente.
Para o cientista político, esse era um projeto de grande interesse para investidores estrangeiros de uma maneira geral, mas principalmente para investidores chineses.
"Essa questão das vendas de terras para estrangeiros talvez possa criar uma ocasião em que Mourão faça falta. Enquanto isso, nesses 15 dias, tirando a questão da vacina da Sinovac, não acho que Mourão faça falta", declarou.
Enquanto estão no governo, militares evitam criticar Jair Bolsonaro
O vice-presidente se soma agora aos outros militares que fazem parte do alto escalão do governo Bolsonaro que tiveram diagnóstico positivo para a COVID-19.
Luiz Eduardo Ramos (Secretaria Geral de Governo), Eduardo Pazuello (Saúde), Braga Netto (Casa Civil), além do general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), citado acima, são alguns dos integrantes da ala militar que foram infectados pelo novo coronavírus.
Perguntado se eventualmente o diagnóstico de Mourão pode afetar o apoio dos militares sobre a maneira como Bolsonaro está combatendo a pandemia, Barreto disse que, pelo respeito à hierarquia presente na disciplina militar, dificilmente vão criticar o presidente.
"Os militares têm um princípio hierárquico muito forte, acho que a gente não vai ver os militares contrariando publicamente o presidente Bolsonaro. A gente já teve situações bem mais graves que essa, como no caso da chamada que Bolsonaro fez dos militares às ruas, que não levantou reações", declarou.
Segundo lembrou Barreto, os militares que criticaram publicamente Bolsonaro o fizeram após deixarem o governo.
"[O respeito à hierarquia] é a tradição. Além disso, há uma quantidade muito grande de militares servindo no governo, e isso é uma coisa importante para eles", comentou.