Segundo Mohammed Marandi, analista político da Universidade de Teerã, embora o Irã tenha respondido à morte do general com ataques de mísseis a bases usadas por norte-americanos no Iraque, a resposta mais importante ainda está por vir.
"Os iranianos estão furiosos hoje [3], assim como estavam há um ano, quando ele [Qassem] foi assassinado", comentou especialista à Sputnik.
Comandante insubstituível?
Para o povo iraniano, Soleimani era um soldado louvado e dedicado, leal ao governo, mas para Israel e seus aliados, o major-general era encarado como um suspeito de ajudar a formar e treinar milícias no Oriente Médio ameaçadoras para Israel.
Tel Aviv afirma que Soleimani, que era o comandante da Força Quds do Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica (IRGC, na sigla em inglês), enviou reforços à Síria para lutar com as forças leais ao presidente sírio Bashar Assad e ao Iraque para lutar contra o Daesh, a Al-Qaeda (ambas organizações terroristas proibidas na Rússia e em outros países) e suas facções afiliadas.
Por sua vez, Irã negou ter enviado tropas para Síria, dizendo que apenas enviou ao país árabe conselheiros militares.
As conquistas de Qassem Soleimani e a sua importância eram tão evidentes que seu assassinato desencadeou uma série de análises sugerindo que o Irã nunca seria capaz de se recuperar da perda do major-general. No entanto, Marandi diz que o Irã "não depende de indivíduos".
"Quando [aiatolá] Khomeini faleceu em 1989, os chamados especialistas ocidentais afirmavam que a Revolução Iraniana tinha acabado, por ele ser uma figura influente e – com acreditavam – insubstituível. Mas o que eles não entenderam é que Irã tem estruturas e instituições; temos pessoas muito competentes e cultas que sabem o que estão fazendo mesmo depois de [um general tão importante] ter morrido", ressaltou Marandi.
Vingança está por vir
Poucos dias depois do assassinato de Soleimani, Irã contra-atacou EUA, lançando mísseis em bases com soldados norte-americanos no Iraque. Na época, o presidente norte-americano, Donald Trump, alegou que a resposta foi mínima e sem importância, porém uma operação iraniana expôs as vulnerabilidades americanas e foi, de acordo com Marandi, apenas uma resposta ao "assassinato de Soleimani”.
"Todos os nossos mísseis atingiram os seus alvos e os danos foram grandes. Mas foi somente uma resposta, e não a resposta [mais importante], enquanto a nossa resposta final vai ser quando os americanos forem expulsos do Iraque, da Síria e do Afeganistão", defende analista político.
A retirada contínua de forças dos EUA do Iraque e do Afeganistão pode ser uma indicação de que Washington não está interessado em incrementar as tensões, e Marandi está seguro de que isso está associado à compreensão dos americanos de que "Irã é um jogador forte demais para ser derrotado em uma guerra convencional".
O presidente eleito Joe Biden prometeu voltar à mesa de negociações com Teerã e restaurar o acordo nuclear, mas, para o analista político iraniano, a nova administração dos EUA não é garantia de melhorias nas relações.
"Não importa quem é o presidente dos EUA. A atitude deles não é alterada com a mudança de presidentes. E a menos que Washington mude o seu comportamento de forma fundamental e comece a se comportar como um país normal, os iranianos não têm outra opção senão mostrar força, porque esta parece ser a única coisa que os americanos sabem respeitar", notou Marandi.
Em 3 de janeiro de 2020, um ataque aéreo norte-americano em Bagdá vitimou o general Qassem Soleimani, então comandante da Força Quds do Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica do Irã e uma das figuras mais respeitadas no Irã, gerando grande indignação.