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'Ainda sabemos pouco sobre nova variante de coronavírus encontrada no Amazonas', diz especialista

© Foto / Sai Li / Universidade de TsinghuaRepresentação artística sobreposta sobre uma imagem de diversos vírus SARS-CoV-2
Representação artística sobreposta sobre uma imagem de diversos vírus SARS-CoV-2 - Sputnik Brasil
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No último domingo (10), o governo do Japão anunciou que encontrou uma nova variante do SARS-CoV-2 em quatro viajantes que estiveram no Brasil e voltaram ao país em 2 de janeiro.

Na quarta-feira (13), o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, disse que está buscando formas de impedir a chegada da "variante brasileira" do novo coronavírus no território britânico.

Já nesta quinta-feira (14), o ministro dos Transportes do Reino Unido anunciou que estão proibidas as entradas no país de pessoas vindas de Brasil e seus vizinhos, além de Portugal, por causa do medo da variante do novo coronavírus.

​Para saber mais sobre essa variante, a Sputnik Brasil conversou com o médico epidemiologista Guilherme Werneck, professor do Instituto de Medicina Social da UERJ — Universidade do Estado do Rio de Janeiro —, que disse que ainda se sabe pouco sobre essa mutação identificada no coronavírus nesses pacientes japoneses.

"O que sabemos é que existe uma linhagem desse vírus no Brasil e que foram detectadas mutações na região da proteína spike, ou espícula, que caracteriza o coronavírus. É onde o vírus se conecta com a célula para poder infectá-la. Toda mutação nessa região potencialmente pode levar alterações em vários aspectos da epidemiologia da doença", explicou o especialista.

Segundo ele, no caso brasileiro ainda não está muito claro qual é o impacto desta mutação, mas chama a atenção para o fato de estas variações, que aconteceram também em outras partes do mundo, estarem associadas a uma maior capacidade de transmissão do vírus.

Ainda é cedo para falar em uma maior letalidade da doença

Werneck diz que ainda é cedo para se falar do impacto dessa mutação na letalidade da COVID-19, mas que poderia afetar a velocidade com que o vírus penetra na célula e eventualmente poderia levar a modificações da gravidade da doença, mas não é possível avaliar tal fato.

"A grande maioria das mutações não tem nenhuma implicação epidemiológica, mas algumas podem ter, principalmente se elas forem especificamente múltiplas e em regiões relacionadas ao processo de penetração do vírus na célula humana", continuou o virologista.

Werneck avaliou que as medidas restritivas adotadas pelo Reino Unido são uma preocupação relevante, tanto é que uma nova linhagem quando foi detectada por lá fez com que vários países proibissem entradas de pessoas vindas do país europeu, e agora o processo de repete de modo inverso.

© REUTERS / Lee Smith Duas mulheres comemoram o Ano Novo em meio à pandemia de COVID-19, em Newcastle, Reino Unido
'Ainda sabemos pouco sobre nova variante de coronavírus encontrada no Amazonas', diz especialista - Sputnik Brasil
Duas mulheres comemoram o Ano Novo em meio à pandemia de COVID-19, em Newcastle, Reino Unido
"No curto prazo, é uma medida que posterga a entrada dessas variantes do vírus, mas no médio prazo é uma tentativa que tende a ser infrutífera, pois quando a mutação é detectada ela já estava circulando por bastante tempo, porque não há como identificar variações genômicas em tempo real. Se toda vez que for identificada uma nova linhagem os países se fecharem vai ser um caos, visto que as mutações são muito frequentes", explicou o especialista.

Segundo Werneck, uma mutação que quando identificada possa causar um impacto epidemiológico, esta sim pode justificar medidas de restrição na circulação de indivíduos, como adotadas pelo Reino Unido, no sentido de postergar a introdução da nova linhagem em determina localidade.

O que explica as mutações no novo coronavírus

O virologista explicou que existem mutações que são esperadas no próprio processo de replicação viral, que implica em leituras e releituras do código genético, e essas de vírus de RNA são muito sujeitas a erros de codificação, o que leva a pequenas mutações, na maioria das vezes, sem grande importância.

"Mas existem várias outras fontes que estimulam a origem de mutações específicas. Uma dessas fontes é a pressão seletiva, como por exemplo ações de prevenções [vacinas] que acabam dificultando que o vírus se espalhe, mas que podem levar cepas ou linhagens específicas, mais adaptadas evolutivamente, a se propagarem melhor por acabarem sendo selecionadas, separadas, das linhagens com dificuldades de se replicar devido ao imunizante", explicou Werneck.

Isso acontece por exemplo com bactérias, segundo o virologista. Para ele, a vigilância genômica é muito importante para se conseguir rapidamente identificar essas cepas mais adaptadas a essas situações, a fim de que se possa também agir de forma mais rápida para se evitar sua disseminação.

Mutações encontradas no Japão de viajantes que estavam no Amazonas

De acordo com Werneck não dá para saber de onde vieram essas novas linhagens do novo coronavírus. Algumas vezes podem ser um conjunto de mutações muito diferentes, tendo origem em linhagens diferentes.

​"Nesse caso é interessante e preocupante que algumas dessas mutações sejam compartilhadas entre essa nova linhagem com outras linhagens que já se mostraram ser mais transmissíveis, pois isto acende o alerta para que o impacto epidemiológico pode ser grande, mais crítico em determinadas regiões do país", explicou.

Somente os cuidados pessoais para evitar a transmissão e uma campanha ampla de vacinação é que vão dar resposta à pandemia, segundo Werneck.

"O governo federal deve ser mais ativo para promover uma vacinação ampla, rápida, de grande parcela da população brasileira, isso vai ajudar em muito a diminuir a circulação do vírus no país", finalizou o virologista.
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