Com grande apelo político e midiático, inclusive com força eleitoral nos últimos pleitos, a Operação Lava Jato, que tinha como principal nome o ex-juiz Sergio Moro, mostra perda de força e prestígio nos últimos anos.
O cientista político e professor da FGV-SP, Claudio Couto, em entrevista à Sputnik Brasil, declarou que a operação Lava Jato perdeu força tanto jurídica, quanto politicamente, em primeiro lugar, pelos "seus próprios erros".
De acordo com ele, foi identificado o envolvimento dos membros da Lava Jato com a política, "foram revelados mais do que deslizes, crimes até, podemos dizer, cometidos pelos membros da Lava Jato com conluio entre o juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, assim como os demais membros do Ministério Público".
"Juízes e promotores têm que estar separados. O juiz é um árbitro, ele não pode ser aliado por uma parte em especial e menos ainda fazendo conluio com ela, que foi que ficou provado pelos vazamentos da Vaza Jato", afirmou.
Além disso, o especialista citou o fato de o ex-juiz Sergio Moro ter entrado para o governo Bolsonaro como um dos fatores que enfraqueceram a Lava Jato.
"Houve ações às vésperas da eleição de 2018 de modo a favorecer o candidato Bolsonaro na disputa com Fernando Haddad, quando, por exemplo, ele vazou a delação premiada do Antonio Palocci, uma delação que depois sequer foi considerada válida. É claro que aquilo era para influenciar a eleição. Acho que todas essas coisas vão produzindo um desgaste", argumentou.
O cientista político também citou a "própria passagem do tempo" como um dos fatores que ajudaram a enfraquecer a força-tarefa. "Não vai mais tendo muita coisa nova para ser revelada, e quando perde o efeito novidade, há também o enfraquecimento. Esses fatores todos conjugados contribuíram para este enfraquecimento", acrescentou.
"Na realidade, o estranho não é ela estar se enfraquecendo agora, passado tanto tempo, mas ela ter durado muito mais do que o previsto, ter até tido força durante um período superior ao previsto. Isso tem a ver com o fato de que houve uma captura da opinião pública pelo lavajatismo", observou.
De acordo com ele, "as instâncias superiores do Judiciário foram pressionadas e ficaram acuadas pelo lavajatismo, quem por ventura revisse algum tipo de decisão da Lava Jato, era imediatamente acusado de ser conivente com a corrupção, de apoiar a corrupção".
Ao comentar o impacto da morte do ministro Teori Zavascki para a Lava Jato, Claudio Couto afirmou que isto foi mais importante para o balanço de poder dentro do Supremo Tribunal Federal (STF) do que especificamente para a Lava Jato.
"A entrada de Alexandre de Moraes produz uma certa mudança no equilíbrio dentro da corte. Eu acho que a corte perdeu, se não um aliado, um juiz menos antipático aos métodos da Lava Jato, e ganhou um juiz que claramente não é tão engajado com ela. Ao meu ver, o que realmente alterou o funcionamento da Lava Jato não foi a morte do Teori, mas foi sim o próprio processo de revelação dos seus crimes, revelação de seus erros e o envolvimento político de seus membros", completou.