Após o Ministério da Saúde ter lançado uma plataforma on-line que oferece um formulário clínico para que profissionais de saúde receitem medicamentos do "kit COVID", diversas denúncias nas redes sociais revelam que os medicamentos, além de serem indicados para qualquer pessoa que preencha uma ficha de cadastro, são comprovadamente ineficazes.
O aplicativo do ministério da Saúde basicamente orienta a dar kit-Covid para todo mundo: qualquer pessoa, de qualquer idade, com praticamente qualquer sintoma.
— Daniel A. Dourado (@dadourado) January 20, 2021
Além disso, o aplicativo desmente o titular da pasta, que disse publicamente que o governo federal nunca receitou cloroquina de forma preventiva.
O TrateCov, do governo federal, pede informações como comorbidades, exposição a ambientes de risco e possíveis sintomas. A plataforma então atribui um "nível" de gravidade ao paciente. Em seguida, disponibiliza uma receita com diversos medicamentos para um suposto tratamento da doença.
Acabei de fazer uma simulação pessoal no TrateCov, o aplicativo do governo Bolsonaro que supostamente auxiliaria no diagnóstico de Covid. Inseri todas as informações corretas e, nos sintomas, coloquei sinusite e dor de cabeça somente. Essa foi minha receita: pic.twitter.com/AbnXDMbHA0
— Paulo Roberto Netto (@paulorobnetto) January 20, 2021
Apesar de ser direcionada a profissionais de saúde, o acesso à plataforma é livre e gratuito, sem a necessidade de realizar um login para ter acesso a uma receita.
A assessora do médico Drauzio Varella, Mariana Varella, relata que citou no formulário duas idas ao supermercado e ausência de comorbidades. Seus sintomas são apenas fadiga e dor de cabeça, que duraram apenas um dia. O TrateCov, no entanto, receitou diversos medicamentos do "kit COVID" e dois antibióticos.
Tb fiz minha simulação no app TrateCov, do Ministério da Saúde. Afirmei ter ido ao supermercado 2x e ñ ter comorbidades. Sintomas: fadiga e dor de cabeça há 1 dia. Sai com uma receita q inclui 2 antibióticos. É inacreditável. pic.twitter.com/bso3ELYEfB
— Mariana Varella (@marivarella) January 20, 2021
Já o médico Pedro Opará decidiu simular um paciente fictício na plataforma. Ele conta que, mesmo citando comorbidades como hipertensão e diabetes, doenças que contraindicam medicamentos do "kit COVID", o TrateCov continuou a recomendar esses remédios.
Nosso paciente imaginário é o senhor "José das Couves". Ele tem 63 anos e várias doenças como hipertensão e diabetes, além de doença do coração e insuficiência renal. Mesmo se o kit covid funcionasse (MAS ELE NÃO FUNCIONA) essas doenças contra indicariam seu uso. pic.twitter.com/ccZf0hj85h
— Pedro Opará (@Oparbento1) January 19, 2021
Nas redes sociais, outros usuários relataram situações semelhantes.
Bicho, eu acabei de colocar no aplicativo TrateCov que meu paciente é um recém nascido de uma semana que tem dor de barriga e nariz escorrendo. O aplicativo recomendou cloroquina, ivermectina, azitromicina e tudo o mais. Crime, crime, crime, crime
— Rodrigo Menegat (@RodrigoMenegat) January 20, 2021
Cloroquina no Brasil
O Ministério da Saúde adquiriu e distribuiu todos os 5,8 milhões de comprimidos de cloroquina obtidos ao longo de 2020. Em julho, o estoque era de 4 milhões de comprimidos.
De acordo com a pasta, isso aconteceu por causa dos pedidos feitos por prefeituras e governos estaduais. "O Ministério da Saúde adquire apenas a cloroquina e não possui estoque, uma vez que o medicamento foi distribuído de acordo com pedidos e planejamento prévio dos estados".
Em conversa com apoiadores na manhã desta segunda-feira, Bolsonaro defendeu o que ele chama de "tratamento precoce" contra a COVID-19 e criticou João Doria ao afirmar que a vacina do Instituto Butantan "é do Brasil" https://t.co/j6kf8A8GO2
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) January 18, 2021
Nas Forças Armadas, os gastos com o medicamento foram de R$ 1,5 milhão até o mês de junho. O governo federal também recebeu três milhões de comprimidos de hidroxicloroquina, que é utilizada para tratamento de doenças como artrite reumatoide, lúpus e dermatomiosite, doados pelo governo dos EUA. Nos estados consultados e nas Forças Armadas, o lote de medicamentos que vence mais rapidamente vai até março de 2021.