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'Carta ameniza, mas não resolve tensões' entre Biden e Bolsonaro, afirma analista

© Agência Brasil/Alan Santos/PRO presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, durante encontro com o presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca, em Washington (EUA)
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, durante encontro com o presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca, em Washington (EUA) - Sputnik Brasil
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Nesta quarta-feira (20), Bolsonaro enviou uma carta de boas-vindas a Joe Biden, na qual afirma que o Brasil espera cooperar estreitamente com os EUA. Contudo, para especialista ouvido pela Sputnik, isso não é suficiente para melhorar as relações com o presidente americano.

Com a posse de Joe Biden nos Estados Unidos em 20 de janeiro de 2021, muitos questionamentos têm sido levantados sobre como se darão as relações do novo líder norte-americano com o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, um admirador, apoiador e seguidor declarado de Donald Trump, o rival político e antecessor do presidente democrata. 

O presidente brasileiro foi um dos últimos chefes de Estado e de governo a cumprimentar Joe Biden por sua vitória na eleição presidencial em 3 de novembro de 2020. Contudo, Bolsonaro não tardou em parabenizar o novo chefe de Estado norte-americano na inauguração de seu mandato, enviando uma carta de boas-vindas ao político democrata, na qual afirma que o Brasil tem uma relação "longa e sólida" com os Estados Unidos, "baseada em valores elevados, como a defesa da democracia e das liberdades individuais".

​Para o especialista em Relações Internacionais Vinícius Rodrigues Vieira, professor da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), instituição sediada em São Paulo, "as relações entre Brasil e EUA estão comprometidas no curto prazo por conta da política empreendida pelo presidente Bolsonaro de alinhamento não aos Estados Unidos, mas a Donald Trump".

Em entrevista à Sputnik Brasil, o professor de Relações Internacionais acredita que esse problema só será solucionado quando as partes "voltarem a ter um diálogo não entre políticos, baseado nas relações pessoais, mas um diálogo com base nos países, na diplomacia profissional".

"Será necessário esperar pelo menos mais seis meses para ver o quão pragmático Bolsonaro será. Tudo vai depender muito mais do lado brasileiro do que do lado americano, porque o lado americano é, sem dúvida, muito mais pragmático. No entanto, por mais que exista esse pragmatismo do lado americano, em política externa não é sempre que os diplomatas, e os países, levam desaforo para casa", avalia Vinícius.

O acadêmico considera que a "carta ameniza, mas não resolve as tensões geradas", que, segundo ele, foram muito elevadas e não se resumem a uma questão pessoal entre Biden e Bolsonaro, mas também a uma questão envolvendo visões de mundo.

"Bolsonaro é hoje o principal antípoda daquilo que Biden pretende fazer na presidência dos EUA, basta pensarmos na questão ambiental, na questão de direitos humanos", afirma o professor da FAAP, que acrescenta que é interessante para o presidente americano fazer oposição a Bolsonaro "para satisfazer, no curto prazo, as demandas de grupos específicos dos EUA, alinhados ao Partido Democrata".

Ao ser questionado se Bolsonaro não deveria ter cogitado, durante a campanha eleitoral dos Estados Unidos, que Biden poderia sair vencedor da disputa, Vinícius avalia que "Bolsonaro parece carecer, ou por maldade ou por incompetência, burrice e ingenuidade, de uma noção de Estado" e não concebe que as relações entre países são, sobretudo, "relações de longo prazo".

Para o especialista, Bolsonaro é muito mal assessorado em termos de política externa. "Podemos ter nossas preferências, nossos desejos, mas quando se trata de relações exteriores, não se pode permitir que esses aspectos ideológicos e essas preferências balizem as decisões", avalia.

Vinícius considera que Bolsonaro erra ao cercar-se de pessoas que não têm capacidade para auxiliá-lo na condução da política externa brasileira, como Felipe Martins, "que não tem a mínima condição de assessorar qualquer presidente de qualquer país do mundo"; seu filho Eduardo Bolsonaro, "que também tem notória incompetência em questões internacionais"; e Ernesto Araújo, "um diplomata que apresentava uma trajetória razoável, mas que parece ter aderido cegamente a uma série de teses em busca de poder".

Para o professor da FAAP, as mudanças nas relações com os Estados Unidos, e com outras nações importantes para os interesses do Brasil, só acontecerão quando Bolsonaro perceber que é necessário fazer "uma correção de rumos em favor do pragmatismo e dos interesses nacionais", e cita como exemplo a própria questão ambiental, que é o principal alvo das críticas internacionais ao governo brasileiro e poderá ser um dos maiores pontos de divergência entre Brasília e o novo governo americano.

"Bolsonaro talvez não perceba, mas uma política ambiental é do interesse do Brasil, para que justamente o país consiga atrair investidores e aplacar o uso errado do argumento ambiental para satisfazer os interesses protecionistas de mercados cuja abertura interessa ao Brasil, como por exemplo o mercado norte-americano e o mercado da União Europeia", opina.

Outro ponto que Vinícius considera que será prejudicado pelas tensões com Joe Biden é o pleito brasileiro para entrar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que Bolsonaro acreditava que avançaria devido à sua proximidade pessoal com Trump.

"Biden vai avançar pouco nesse tema enquanto o Brasil não demonstrar a boa vontade necessária para restaurar a lógica de relação com os EUA", sentencia o professor da FAAP.  
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