O Irã avisou aos EUA que o novo presidente Joe Biden não terá um período indefinido de tempo à sua disposição para voltar ao acordo nuclear de 2015, o Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês).
"Os EUA não terão todo o tempo do mundo […]. Estamos aguardando o anúncio oficial de sua posição, bem como o levantamento das sanções", afirmou nesta terça-feira (26) o porta-voz do governo iraniano, Ali Rabiei, citado pela agência Associated Press.
As declarações são parte da pressão que Teerã está tentando exercer sobre os EUA enquanto busca aumentar sua influência e fazer com que o governo Biden volte rapidamente ao acordo. Curiosamente, as declarações de Rabiei vão de encontro às afirmações do líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, que há pouco mais de duas semanas dizia que o Irã não tinha pressa para que EUA voltassem ao acordo nuclear.
A mídia recorda que o presidente Biden está revertendo muitas decisões do governo Trump, incluindo mudança climática e imigração. Mas, embora Biden tenha prometido voltar ao acordo nuclear, Rabiei garante que ainda não houve nenhuma comunicação entre o Irã e EUA sobre o assunto. Dessa forma, o porta-voz do Irã acrescentou que Teerã vai dar um passo se distanciando do acordo nuclear ao impor uma "restrição" às inspeções do órgão de vigilância nuclear da ONU no final de fevereiro.
Retirem as sanções e voltaremos ao acordo
Também nesta terça-feira (26), o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, afirmou o país está disposto a retomar o cumprimento total do JCPOA se Washington suspender as sanções que atualmente impedem a cooperação do Irã com países estrangeiros.
"Os EUA deveriam parar com a pressão de sanções, não deveria haver obstáculos no caminho para nossa cooperação com outros países. Se esses problemas forem resolvidos, então voltaremos a cumprir integralmente o JCPOA. [...]. Isso é algo que foi dito por nosso líder, o líder supremo. Se os EUA retirarem as sanções, voltaremos a cumprir o acordo na íntegra", garantiu Zarif em entrevista coletiva, realizada após seu encontro com o chanceler da Rússia, Sergei Lavrov.
Enriquecimento de urânio
No início do mês, o Irã retomou o enriquecimento de urânio a 20% em sua instalação nuclear subterrânea de Fordow. Uma lei aprovada em dezembro de 2020 autoriza a produção anual de, pelo menos, 120 quilos de urânio enriquecido a 20%.
A medida iraniana corresponde a uma "violação" do JCPOA, que fixava o limite máximo para enriquecimento de urânio em 3,67%. Teerã garante que pode reverter rapidamente as violações que têm cometido se as sanções dos EUA forem removidas.
Escalada de tensões
As tensões entre Teerã e Washington aumentaram constantemente nos últimos meses. Durante os últimos dias de Trump como presidente, Irã apreendeu um petroleiro sul-coreano, enquanto os EUA enviavam bombardeiros estratégicos B-52, o porta-aviões USS Nimitz e um submarino nuclear para a região.
O Irã também aumentou seus exercícios militares, incluindo o lançamento de mísseis de cruzeiro como parte de um exercício naval no golfo de Omã.