O FMI divulgou nesta quarta-feira (27) a atualização do Monitor Fiscal que mostrou uma redução das projeções para a dívida bruta do Brasil em 2020 e 2021.
Segundo o órgão, a previsão para o endividamento bruto brasileiro para 2020 caiu de 101,4% do PIB para 95,6%, enquanto a projeção para 2021 recuou de 102,8% para 92,1% do PIB.
Apesar da redução, o valor ainda é maior que os registrados na média dos países emergentes, que deve ficar em 65,3% do PIB neste ano.
A economista Juliana Inhasz, professora e coordenadora do Curso de Graduação em Economia do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), explicou do que se trata a dívida pública bruta.
"A dívida pública bruta é toda a dívida pública que foi emitida pelo governo, e que está disponível para que esse governo utilize esses títulos públicos para conduzir sua política monetária", comentou.
O FMI usa um critério diferente das autoridades brasileiras para calcular a dívida bruta, incluindo os títulos do Tesouro na carteira do Banco Central (BC).
'Dívida alta prejudica entrada de investidores'
Segundo Juliana Inhasz, os valores acentuados da dívida pública bruta projetada pelo FMI refletem o momento econômico atravessado pelo Brasil em meio à crise econômica gerada pela pandemia do novo coronavírus.
"A gente vê o que aconteceu com a dívida pública nos últimos anos, em especial em 2020, que teve um aumento muito acentuado por conta do quadro que vivenciamos e ainda estamos vivendo, e a gente tem hoje uma tendência de permanência de valores elevados para essa dívida pública bruta. A gente pode concluir que, de fato, esses valores são acentuados", explicou.
Para a economista, os números contribuem para que investidores estrangeiros deixem de transferir recursos para o país.
"[O Brasil] precisa ter um risco menor para atrair mais investimentos e para melhorar a expectativa das pessoas que colocam os seus recursos aqui no Brasil. Esse risco está de alguma forma refletido nesse endividamento. Países com endividamento muito elevado são países mais arriscados, porque as chances de esses países não conseguirem honrar com as suas dívidas [aumentam]", afirmou.
"É difícil acreditar que um país com muito risco possa colocar em prática um plano de ter uma trajetória de crescimento equilibrado de uma forma rápida e eficaz. Justamente por isso, esses valores ainda são elevados. Eles [os números] continuam mostrando um Brasil que ainda não se recupera, um Brasil que precisa crescer, mas que tem um endividamento muito alto, e que hoje é uma grande barreira", declarou a especialista.
'Crise já era anterior à pandemia'
O Tesouro Nacional divulgou nesta quinta-feira (28) que as contas do governo federal registraram um rombo fiscal de R$ 743,1 bilhões em 2020. O resultado é o pior da série histórica iniciada há 24 anos.
Segundo Inhasz, o desempenho ruim da economia brasileira não ocorre somente pela crise gerada pela pandemia.
"A questão é que esse endividamento público brasileiro já vinha crescendo nos últimos anos, então se fala bastante do período de 2020, por conta dessa aceleração, mas a gente já vinha com uma alta significativa nos últimos tempos que já configurava o tamanho da fragilidade da economia brasileira", declarou.
De acordo com a economista, a projeção do FMI mostra que o Brasil possui uma "situação fiscal delicada".
"O Brasil precisa mais do que nunca repensar a forma como se coloca diante da sua situação fiscal e como ele desenha mecanismos para resolver situações delicadas como essa", completou.