Nesta sexta-feira, o representante do escritório político do movimento Talibã (proibido na Rússia e em outros países) no Qatar, Sher Mohammad Abbas Stanikzai, declarou:
"Esperamos que os EUA continuem a respeitar o acordo assinado em Doha [em 2020]. Esta é uma boa chance para os EUA."
Contudo, o movimento afirmou que, se Washington violar o acordo de paz e não remover totalmente suas tropas do Afeganistão, então o Talibã terá que "se defender".
"Esperamos que os EUA saiam. Estamos praticamente certos disso, não penso que eles não removam suas tropas. Mas, se eles violarem o acordo, embora eu espere que não o façam, não teremos outra opção a não ser nos defendermos. Vamos lutar, tal como aconteceu antes com outras forças de ocupação."
Stanikzai também relembrou o prazo de retirada das tropas estrangeiras do Afeganistão, que estão no país desde 2001.
"Faltam só três meses para a última data de retirada das tropas norte-americanas e outros militares estrangeiros do Afeganistão. A maior parte já foi retirada, só ficaram alguns milhares. Esperamos que até o final de abril eles saiam do Afeganistão", disse.
Stanikzai revelou que durante encontro com o representante especial da Rússia para o Afeganistão, Zamir Kabulov, foi discutida a possibilidade de exclusão dos membros do movimento das listas de sanções do Conselho de Segurança da ONU.
"Ontem, discutimos esta questão com Sua Excelência Kabulov. Ele também apoia o desejo de exclusão [dos membros do Talibã] da lista de sanções."
Ainda nesta quinta-feira (28), o secretário de imprensa do Departamento de Defesa dos EUA, John Kirby, disse que a administração Biden ainda não decidiu sobre o futuro das tropas americanas no Afeganistão. Contudo, ele reafirmou o compromisso de seu país com o acordo de paz.
Talibã age sem ajuda russa
O jornal The New york Times publicou no ano passado uma matéria afirmando que a Rússia oferecia gratificações ao Talibã para atacar alvos norte-americanos no Afeganistão. Stanikzai disse sobre isso:
"Em relação às notícias que têm circulado nos EUA sobre supostas gratificações - isso é totalmente mentira. Negamos isso completamente. Ninguém nos deve dar gratificações pelo assassinato de americanos. Nós os matamos desde 2001. Lutamos contra eles mesmo sem nenhuma gratificação."
Logo após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, o governo dos EUA decidiu invadir o território do Afeganistão, acusando o Talibã de estar por trás dos ataques e apoiar o então líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden.
Desde o referido ano, forças de uma coalizão internacional estiveram em conflito direto com o Talibã. Contudo, em 29 de fevereiro de 2020, os EUA e o Afeganistão assinaram um tratado de paz que estabelecia a retirada das tropas norte-americanas do país, bem como das outras forças estrangeiras.