Por que em algumas pessoas não são observados sintomas da COVID-19, uma parte tem forma leve ou média, enquanto outros falecem? Uma série de pesquisas com participação de gêmeos idênticos revela causas desta diferença.
Caso italiano
Em março de 2020, quando a Itália esteve no epicentro do combate ao coronavírus, dois homens de 60 anos de idade foram diagnosticados com COVID-19. O que atraiu atenção para este caso particular foi que os pacientes eram gêmeos idênticos, ou seja, tinham genes iguais. Eles viviam juntos, trabalhavam em uma oficina mecânica, tinham modos de vida semelhantes e se contagiaram, pelo visto, ao mesmo tempo.
Se tudo tivesse se desenvolvido dentro do mesmo cenário, isso significaria que os fatores genéticos influenciam a gravidade da doença. No entanto, tudo acabou de maneira diferente.
Nos primeiros tempos após o contágio, os irmãos sentiam mal-estar: febre, congestão nasal, tosse grave. No décimo dia depois dos primeiros sintomas, os homens foram internados com pneumonia leve no mesmo hospital, onde foram tratados do mesmo modo pela mesma equipe de médicos. Porém, um dos gêmeos se recuperou rapidamente e apenas uma semana depois regressou a casa, enquanto seu irmão foi transferido à unidade de terapia intensiva e ventilado. Ele esteve lá durante 17 dias e se recuperou lentamente, ao contrário de seu irmão.
Caso norte-americano
Nos Estados Unidos, do outro lado do mundo, aconteceu uma história parecida. Em abril de 2020, duas irmãs de 35 anos de idade do Michigan – também gêmeas idênticas – entraram no hospital com temperatura alta, tosse forte e dificuldades em respirar. As amostras confirmaram o SARS-CoV-2.
Tal como no caso dos irmãos italianos, as mulheres tinham modos de vida parecidos, estado de saúde praticamente idêntico e patologias iguais – obesidade e diabetes de tipo II. Além disso, uma sofria de asma. Todas essas patologias são fatores de risco sério em caso de COVID-19.
Uma semana depois, a irmã com asma já tinha recebido alta do hospital, enquanto a outra foi colocada no ventilador e só pôde respirar sem este após um mês.
Genética contra ambiente
Cientistas britânicos, por sua parte, realizaram um estudo em grande escala sobre a contribuição da hereditariedade ao desenvolvimento da COVID-19, com participação de mais de duas mil pessoas, entre as quais 277 eram gêmeos idênticos e 68 bivitelinos, isto é, os genes destes coincidem apenas em 50%, como em irmãos comuns.
Comparando dados de sintomas da infecção por coronavírus em pessoas comuns com os dos gêmeos, especialistas concluíram: tais sintomas como febre, diarreia, perda do olfato e desordem mental dependem de fatores genéticos, uma vez que os gêmeos idênticos sofrem precisamente deles. Por sua vez, a tosse, perda do apetite e dores musculares podem atormentar apenas um dos dois.
Em entrevista a The Gardian, o chefe deste estudo, professor Tim Spector, baseando-se nestes dados, afirmou que podia haver prevalência dos fatores genéticos na gravidade da COVID-19. No entanto, os artigos descrevendo os casos dos gêmeos norte-americanos e italianos colocaram as conclusões dele em questão.
Por isso, alguns especialistas tendem a explicar que estas diferenças se devem mais à influência da imunidade adquirida e aos micro-organismos no trato gastrointestinal.
Morgan Birabaharan, especialista da Universidade da Califórnia (EUA), comentou o artigo sobre os gêmeos italianos, notando que, apesar das caraterísticas genéticas, demográficas e comportamentais idênticas, se um dos gêmeos tivesse tido coronavírus sazonal, em consequência disso teria se formado imunidade. Isso poderia ter definido o desenvolvimento da doença.
Ao mesmo tempo, gêmeos idênticos nem sempre são tão idênticos como se acredita. Recentemente, uma equipe internacional demonstrou que existe alguma porcentagem de diferença nas mutações espontâneas precoces que ocorrem no início da vida. Calcula-se que cerca de 15% dos gêmeos idênticos as possuem. É bastante provável que tenha sido esta diferença que protegeu os irmãos mais sortudos nestes dois pares de gêmeos.