O Sindicam-SP (Sindicato dos Transportadores Rodoviários de Bens do Estado de São Paulo) é uma das entidades que não aderiram ao movimento desta segunda-feira (1º). Para Norival de Almeida Silva, presidente do sindicato, "a greve é o extremo dos extremos" de só deve ser convocada em situações muito específicas. Ele acredita que o momento não é o ideal para uma paralisação, visto que o Brasil passa por um novo pico na pandemia.
"A situação do caminhoneiro está tão difícil quanto a de qualquer um de nós, brasileiros. Agora você imagina o nosso povo, desempregado, empresas fechando... Não seria justo nós não sermos solidários com o nosso país e nosso povo. [...] Fizemos nossa parte durante toda a pandemia. Não é hora de fazer greve. É uma coisa que entendo que é voltada para a política", diz Norival, em entrevista à Sputnik Brasil.
Há relatos de interdições de rodovias nos estados de Minas Gerais, Bahia e São Paulo. Em São Paulo, as rodovias Anhanguera e Castello Branco estiveram ocupadas com caminhões.
A greve pode ser interpretada como um reflexo da queda de popularidade de Jair Bolsonaro, que contou com o apoio da classe caminhoneira na corrida eleitoral. No entanto, mesmo em relação ao apoio ao presidente, que já foi quase unânime, os caminhoneiros atualmente parecem divididos: enquanto alguns grevistas são contrários a Bolsonaro, outros afirmam que o movimento não é contra o presidente.
"Para nós, é um ótimo governo. Sabemos que o presidente não governa sozinho. A intenção não é protestar contra o presidente. É a favor dele, sabemos da luta do nosso presidente lá em cima, ele não decide sozinho. Apoiamos em 2018 e continuamos apoiando", afirma em entrevista à Sputnik Brasil Luiz Fernando Galvão, presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga de Guarulhos e Região (Sinditac).
Ele complementa afirmando que o protesto é contra "o falecimento da categoria". Em São Paulo, foram vistas muitas faixas contra o governador João Doria na paralisação.
Caminhoneiros interromperam na manhã de hoje o fluxo de duas faixas da Rodovia Castello Branco, na altura de Barueri (SP), e protestaram contra o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).#ForaDoria #DoriaTemQueCair #CaminhoneirosContraDoria #grevecaminhoneiros #SaoPaulo pic.twitter.com/mhuPEqh8NU
— Rafael Ananias (@RafaelAnanias14) February 1, 2021
As principais entidades à frente da convocação são a CNTTL (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística), a ANTB (Associação Nacional de Transporte no Brasil), e o CNTRC (Conselho Nacional de Transporte Rodoviário de Cargas).
Assim como o Sindicam-SP, outras entidades são contra a manifestação, como a CNTA (Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos) e a Abrava (Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Autônomos). Todas participaram da greve de caminhoneiros de 2018.
'Estamos à beira da morte', diz grevista
Entre as reivindicações dos caminhoneiros, estão a instituição do preço mínimo de frete para todas as classes e a aprovação da Lei BR do Mar, que estabelece a cabotagem no ramo de transportes. Além disso, cobram um menor preço do óleo diesel. Algumas das pautas são as mesmas reivindicadas em 2018.
"Desde 2018, não melhorou em nada. Ficamos do mesmo jeito. [...] Nós ouvimos os motoristas, foram eles que pediram essa paralisação. Estamos à beira da morte. Tudo o que ganhamos em 2018 não está em prática. São leis que já existem, mas não estão sendo cumpridas", disse Galvão.
Após governo promover projeto de incentivo à navegação de cabotagem, líder caminhoneiro que apoiou Jair Bolsonaro na campanha de 2018 disse que presidente "traiu" a categoriahttps://t.co/E93tkCfLae
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) December 10, 2020
Galvão se refere à greve dos caminhoneiros de maio de 2018, quando a categoria realizou uma paralisação de 9 dias, que provocou um caos na economia do país. Na época, os caminhoneiros reivindicavam a isenção de pedágio para eixos suspensos, a criação de um marco regulatório para a profissão e o fim dos ajustes diários no preço do diesel.
Desde março de 2019, a Petrobras reajusta o valor do combustível nas refinarias a cada 15 dias, entretanto, a medida é considerada abusiva pelas entidades de classe.
"A situação desde 2018 ficou menos ruim. Pelo menos fomos reconhecidos, desde os embarcadores até as transportadoras. Mas dessa vez eles querem propostas engessadas", avalia Norival.