De acordo com Leonardo Paz, pesquisador do Núcleo de Inteligência Internacional da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro, a Huawei, além de "talvez" possuir a "melhor tecnologia", é também a empresa "mais competitiva", "a mais barata" e a que "tem condições de começar a instalar amanhã" o sistema 5G.
Em função da pandemia do novo coronavírus, o leilão da quinta geração de telefonia móvel (5G) no Brasil foi adiado para 2021. Uma das grandes discussões em torno do tema é se o governo permitirá que uma empresa chinesa vença a licitação para operar a tecnologia no país.
Se antes havia resistência a essa ideia, o caminho parece ter ficado mais livre recentemente. Primeiro, portaria publicada pelo governo com regras sobre o 5G no país não fez restrições à participação da Huawei.
Rede exclusiva do governo
Depois, nesta terça-feira (2), o ministro das Comunicações, Fábio Faria, disse que uma empresa privada poderá operar a rede segura de 5G exclusiva do governo federal.
Para Leonardo Paz, não é "um problema muito grave" uma empresa privada "tomar conta" de uma rede segura do governo.
"Se você parar para pensar, basicamente toda rede de comunicação no Brasil é privada. Na maior parte dos países do mundo são empresas privadas que tomam conta disso tudo, da Internet, da telefonia, da telefonia celular…", disse o professor de Relações Internacionais do Ibmec-Rio. "Acho que faz algum sentido essa ideia de se ter uma rede específica para um conjunto de instituições que demandam uma necessidade de confidencialidade, de segurança da informação maior", acrescentou.
A rede exclusiva do governo federal será usada pela presidência, vice-presidência, Polícia Federal, Forças Armadas, administração pública em geral e Procuradoria-Geral da República, mas também poderá abranger os poderes Legislativo e Judiciário.
Informações nas mãos de estrangeiros
"Do ponto de vista prático, não vejo problema em ser uma empresa privada. Basicamente ela tem que garantir um conjunto de safeguard [salvaguardas], e você vai ter um conjunto de pessoas e instituições no governo que vão acompanhar de muito perto" a segurança do sistema, afirmou Paz.
O X da questão, segundo o especialista, é encontrar uma empresa nacional, privada ou estatal, que tenha capacidade tecnológica para implementar o 5G no Brasil. Se não vê problemas na gestão privada da rede exclusiva do governo, Paz enxerga ameaças na abertura para companhias estrangeiras.
"A grande pergunta, na realidade, é se essa empresa vai ser uma empresa privada nacional ou uma empresa privada estrangeira. Aí eu acho que é um pouco mais complexo, estar colocando toda a comunicação mais relevante do país na mão de uma empresa estrangeira. Aí sim a coisa fica um pouco mais esquisita", avaliou o cientista político.
Empresas brasileiras não têm estrutura para 5G
De acordo com o ministro Fábio Faria, se for confirmada a opção por uma empresa privada, o governo mudará decreto que define como atribuição da estatal Telebras, que está na lista de privatização do governo, a administração da rede privativa de comunicação da administração pública federal.
Leonardo Paz diz que não existem empresas brasileiras com estrutura para implementar o 5G no país. E mesmo no mundo todo, segundo ele, são poucas as que possuem essa tecnologia. Em função disso, a Huawei é naturalmente uma forte candidata a vencer o leilão do governo, aponta o especialista.
"Não precisaria dessa informação nova do ministro para poder mudar qualquer coisa. Ela já é um grande ator, já é um grande competidor nesse setor", disse o professor do Ibmec.