Diante de um ano caótico para a economia de todo o mundo por conta da pandemia de COVID-19, o que pode explicar este recorde? Segundo Álvaro Bandeira, economista-chefe do Banco Modalmais, boa parte deste valor que foi investido partiu das classes de renda mais alta e do exterior: a valorização do dólar em relação ao real atrai investimentos externos.
"A maior explicação está no rearranjo dos investimentos com fuga de aplicações em renda fixa, visando uma tentativa de melhorar a remuneração dos investimentos. Além disso, juros baixos em todo o mundo ampliaram o apetite ao risco dos investidores, mesmo com a pandemia", analisa Bandeira, em entrevista à Sputnik Brasil.
O dólar valorizado em relação ao real traz também mais aquisições e fusões de ações e empresas no Brasil. O economista destaca ainda a retomada do setor de construção civil, que incentivou as aplicações em fundos imobiliários.
Como mostram os números da Anbima, o aumento de volume financeiro investido mais expressivo foi no setor de varejo tradicional, com 20,3%. Em seguida, há também os aumentos no segmento de grandes fortunas (13,5%) e de varejo de alta renda (6,7%).
Bandeira destaca também o aumento das aplicações em poupança e em títulos e valores mobiliários: os resultados foram de 21,6% e 29%, respectivamente. O auxílio emergencial provavelmente está refletido nestes números, uma vez que 38% dos beneficiados conseguiram poupar uma parcela do dinheiro recebido.
Apesar do aumento de investimentos, o economista avalia que a capacidade de poupança da população brasileira ainda é muito baixa – menos de 16% do Produto Interno Bruto (PIB) – e que por isso é preciso atrair investidores externos.
"Investimentos são sempre muito bem-vindos, sobretudo quando a União perdeu a capacidade de investir sem folga no orçamento", diz Bandeira.
Para atrair um maior volume de capital externo, o Brasil precisa de "políticas corretas, reformas estruturantes, marcos regulatórios e segurança jurídica", na opinião de Bandeira. Ele argumenta que, para que o Brasil cresça de maneira mais rápida e sustentável, o país deveria investir uma faixa de 20% a 25% de seu PIB – o que ainda está longe de acontecer.
"Só para lembrar, países asiáticos, no chamado grande milagre asiático, chegaram a investir mais de 35% de seu PIB. Mas estamos longe ainda a chegar a este patamar", afirma Bandeira.
Na semana passada, a Secretaria do Tesouro Nacional divulgou as contas públicas do Brasil: o país registrou déficit primário recorde de R$ 743,087 bilhões – um valor que representa 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.
Ainda no primeiro semestre de 2021, o Brasil deve leiloar a rede de tecnologia 5G do país, o que deve ajudar a equilibrar as contas públicas. A chinesa Huawei é a favorita para vencer a disputa.