Rodrigo Londoño, conhecido como Timochenko, fez a declaração em audiência virtual na Jurisdição Especial de Paz, que julga os fatos relacionados ao assassinato, em 1995, do político e ex-candidato presidencial Álvaro Gómez Hurtado.
Com o acordo de paz assinado entre governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, o grupo abandonou as armas e alguns de seus integrantes criaram o partido Comunes, que tem como líder Timochenko.
"Como signatários do acordo de paz, seria incongruente guardar silêncio diante desses fatos. Apesar do altíssimo custo político e das sanções que podem ser aplicadas, decidimos assumir nossa responsabilidade e demonstrar com contundência nossa vontade de paz", afirmou o ex-integrante das Farc no início da audiência.
Conversas de paz
Em 2020, o grupo admitiu que teve participação na morte de Hurtado. Durante o julgamento, Timochenko revelou que as Farc planejaram um atentado contra Juan Manuel Santos, que governou o país entre 2010 e 2018.
De acordo com o líder do Comunes, discussões para cometer o ato foram feitas mesmo após o início dos diálogos de paz entre as Farc e o governo.
Timochenko deu a resposta após ser perguntado por uma juíza se no comando das Farc se discutia o assassinato de pessoas que o grupo considerava inimigas.
"A única vez que me lembro que argumentamos contra agir contra alguém é quando, na liderança de Alfonso Cano [líder máximo das FARC antes de Timochenko, morto em 2011], ele nos informa que um comando está pronto para atentar contra a vida do então presidente Juan Manuel Santos", disse Rodrigo Londoño.
Em seguida, ele disse que o atentado foi descartado porque "não era ético" agir contra uma pessoa com quem se estava iniciando um processo de paz.
Dúvidas sobre crime
Além de Timochenko, outros ex-guerrilheiros e a ex-congressista Piedad Córdoba foram convocados para prestar esclarecimentos sobre a morte de Álvaro Gómez Hurtado.
Embora as Farc tenham reconhecido ter executado o atentado contra o político, alguns setores da sociedade colombiana e até mesmo familiares da vítima têm dúvidas sobre o crime.
A família do político diz que o assassinato pode ter sido encomendado por Ernesto Samper, ex-presidente colombiano e ex-presidente da Unasul. Segunda essa versão, ele teria ordenado o crime devido às denúncias que Hurtado fazia sobre supostos vínculos do governo Samper com o Cartel de Calí.