Para Guilherme Werneck, médico epidemiologista e professor do Instituto de Medicina Social da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), o levantamento do Imperial College apenas reforça a impressão que a comunidade científica tem sobre a pandemia no Brasil.
Boa parte da culpa pela aceleração da pandemia é, segundo Werneck, do governo. O especialista argumenta que, passado quase um ano do início da pandemia no Brasil, ainda não se viu quase nenhum exemplo de medidas incisivas e eficazes para que a população permaneça em casa e evite circular nas ruas.
"As pessoas estão cansadas. E como elas veem que está tudo abrindo, que tudo está normal, elas começam a relaxar. […] É uma função do Estado, do governo, gerar esta comunicação e mobilização para que as pessoas voltem a sair menos", diz Werneck, em entrevista à Sputnik Brasil.
"Estamos numa situação grave, registrando uma quantidade de óbitos muito alta, com a média móvel também muito alta, mostrando que a situação da pandemia no Brasil ainda é muito precária", avalia o médico.
Nos últimos meses, foram detectadas três diferentes variantes do novo coronavírus no território brasileiro. Além da cepa encontrada no Amazonas, que levou o estado ao colapso do sistema de saúde, o Brasil também já registrou casos das variantes oriundas do Reino Unido e da África do Sul. É importante lembrar que o surgimento de variantes em pandemias é algo esperado – e novas cepas tendem a surgir ao longo dos próximos meses.
Werneck ressalta que a transmissão do novo coronavírus não é necessariamente simultânea em todas as regiões do país. Ou seja, o Norte e o Nordeste podem estar passando por um momento mais delicado atualmente, mas nada impede que a pandemia avance da mesma forma no Sul e em outras regiões futuramente.
"A situação do Amazonas, por exemplo, tende a ser reproduzida, em curto ou médio prazo, em outras cidades e estados brasileiros. […] Houve um relaxamento muito grande do controle da pandemia. A vida praticamente voltou ao normal, as pessoas começaram a sair com muita frequência", alerta o especialista.
O epidemiologista não poupa críticas ao governo também em relação à vacinação dos brasileiros. Até esta quarta-feira (10), 4.321.678 pessoas haviam recebido a primeira dose da vacina contra o novo coronavírus no país – o que representa apenas 2,04% da população brasileira.
"O papel desempenhado pelo governo federal na obtenção das vacinas, seja nas tratativas com as empresas, com os estados e com outros países sempre foi incompetente e insustentável, sem nenhuma capacidade de reconhecer a relevância e a importância de se vacinar rapidamente grandes parcelas da população", afirma Werneck.
Nesta quinta-feira (11), a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro anunciou que a vacinação na cidade corre o risco de ser interrompida por falta de imunizantes contra a COVID-19. Também nesta quinta-feira (11), uma reportagem do portal Congresso em Foco mostrou que o governo federal gastou pelo menos R$ 6,1 milhões em campanha para estimular o uso de remédios sem comprovação científica no tratamento precoce da COVID-19.