Na reunião, os três discutiram mudanças climáticas e o combate ao desmatamento.
Em entrevista à Sputnik Brasil, Carlo Barbieri, economista e analista político que há mais de 30 anos vive nos Estados Unidos, e Denilde Holzhacker, professora de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing em São Paulo, veem com bons olhos a aproximação entre os governos de Brasil e EUA.
Holzhacker explica que estas reuniões representam, por enquanto, uma aproximação apenas inicial, com o começo da construção de um diálogo entre os dois países. Na reunião, Araújo, Salles e Kerry conversaram sobre o Earth Summit, reunião internacional organizada pelos EUA para tratar da preservação do meio ambiente. Para a professora, a inclusão do Brasil nas tratativas sobre o evento é um bom sinal para o governo Bolsonaro, que tem sido constantemente criticado pela devastação ambiental.
"É uma sinalização do governo Biden de que: 'Não estamos excluindo o Brasil do processo, mas também não significa que vamos aceitar as visões e as posições do governo brasileiro'", avalia Holzhacker.
Da mesma maneira, Barbieri avalia a aproximação norte-americana como uma abertura ao diálogo em "uma área que poderia ser um problema" entre os dois países, referindo-se à preservação ambiental. Agora, segundo o economista, é preciso que o Brasil mostre receptividade e forneça informações e dados concretos sobre as ações para preservação da Amazônia e outros biomas.
"A bola veio para o lado brasileiro e dá para retornar [para o outro lado] com muita positividade para o mundo como um todo e para os EUA em particular", diz Barbieri.
Excelente reunião que tivemos com o Sec. John Kerry sobre clima, COP, Amazônia e o Earth Summit em abril, em Washington pic.twitter.com/tkNk4D7aNV
— Ricardo Salles MMA (@rsallesmma) February 17, 2021
Nos últimos meses, os governos de Jair Bolsonaro e a campanha presidencial de Joe Biden e Kamala Harris trocaram críticas mútuas. Em um debate com Donald Trump, Biden chegou a afirmar que vai "garantir que vários países se juntem e digam [ao Brasil]: 'Aqui estão US$ 20 bilhões [cerca de R$ 108 bilhões]. Parem de destruir a floresta'". Em resposta, Bolsonaro, que apoiou abertamente a reeleição de Trump, disse que a declaração de Biden foi desastrosa, gratuita e lamentável.
Apesar do início de relacionamento conturbado entre Bolsonaro e Biden, Barbieri ressalta que é preciso separar os momentos de campanha presidencial e de política de governo. O especialista destaca que a postura do governo Biden de enviar Kerry para debater com ministros brasileiros demonstra o "pragmatismo do governo norte-americano", que tem a ganhar caso consiga o apoio brasileiro na pauta ambiental.
"O Brasil é uma peça importante [no debate ambiental], e se os EUA conseguirem levar à mesa Brasil embaixo do seu braço, será um êxito político para o presidente norte-americano e um arrefecimento das críticas mundiais para o Brasil", avalia Barbieri.
No dia 8 de janeiro, a porta-voz do governo norte-americano, Jen Psaki, anunciou que os EUA pretendem continuar fortalecendo os laços econômicos e comerciais com o Brasil. Este, segundo Holzhacker, foi mais um sinal do desejo de aproximação entre os dois países. A especialista destaca, no entanto, que estes são apenas contatos iniciais para construir uma nova relação – no futuro, ela acredita em fortes pressões por parte de Biden sobre as decisões do governo brasileiro.
"A aproximação não indica que será um relacionamento fácil. Esta é apenas uma aproximação e um começo de diálogo entre os dois governos", ressalta a professora.
Holzhacker acredita que o governo brasileiro espera obter ajuda financeira dos Estados Unidos para executar planos de preservação ambiental. Ela lembra que, na diplomacia, para cada ação é esperado algo em troca.
"Haverá contrapartida. A pressão para que o Brasil tome ações concretas contra o desmatamento na Amazônia e em outras áreas ambientais brasileiras será colocada sobre a mesa", diz a especialista.
O Min. Ricardo Salles e eu tivemos hoje teleconferência com o Secretário John Kerry, representante especial dos EUA para Mudança do Clima. O diálogo e cooperação sobre meio ambiente e clima serão mais um elemento agregador na parceria Brasil-EUA que continuamos construindo.
— Ernesto Araújo (@ernestofaraujo) February 17, 2021
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Barbieri destaca outros pontos em que a relação Brasil-EUA pode ajudar no combate ao desmatamento. Segundo ele, acabar com impostos para que produtos produzidos na Amazônia possam ser exportados a menor custo para os EUA é uma forma de colaborar. "Isto daria um estímulo à exploração econômica e à manutenção do emprego nestas áreas, através de empresários conscientes e capazes de promover a sustentabilidade", diz o economista.