Comitê que investigará invasão ao Capitólio levará a mais espionagem, dizem especialistas

© REUTERS / Jim UrquhartMembros do Proud Boys, grupo de extrema-direita, fazem gestos de mão "OK" indicando "poder branco", em protesto junto do Capitólio em Washington, EUA, 6 de janeiro de 2021
Membros do Proud Boys, grupo de extrema-direita, fazem gestos de mão OK indicando poder branco, em protesto junto do Capitólio em Washington, EUA, 6 de janeiro de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 18.02.2021
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Analistas norte-americanos criticaram os planos de formar um comitê para investigar a invasão ao Capitólio, sugerindo que a criação teria como objetivo dar mais poderes às agências de espionagem dos EUA.

Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, anunciou na segunda-feira (12) a criação de um comitê como o dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, para revisar "fatos e causas" de invasão ao Capitólio de 6 de janeiro perpetrada por trumpistas.

O comitê original para investigar os eventos de 11 de setembro de 2001 foi criado em 27 de novembro de 2002 pelo então presidente George W. Bush e o Congresso dos EUA com o objetivo de "preparar um relatório completo e total das circunstâncias em torno dos ataques de 11 de setembro". O órgão bipartidário era composto por cinco democratas e cinco republicanos, e era presidido por um ex-governador republicano.

"O comitê do 11 de setembro deveria ser um esforço bipartidário para descobrir o que deu errado no 11 de setembro", diz William Stroock, autor norte-americano e especialista político, à Sputnik.

"Hoje em dia, os democratas usarão este comitê ao estilo '11 de setembro' para alimentar os temores do Q[Anon], nacionalismo branco, Trump e seus apoiadores em geral. Este comitê não será nada independente e não estará interessado em apurar fatos, apenas em atribuir a culpa aos republicanos, conservadores e partidários de Trump", afirma.

Uma reportagem de sexta-feira (12) da emissora NBC News relatou que a administração Biden planeja expandir os fundos do Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês) para estudar e prevenir o "extremismo violento doméstico". A própria organização já avisou sobre uma ameaça iminente de extremismo doméstico violento supostamente encorajado pelos protestos no Capitólio.

O ataque de 11 de setembro provocou um "vasto aparelho de espionagem doméstico com tribunais secretos e deu a [agentes] federais vastos novos poderes de espionagem", aponta Stroock, sugerindo que os democratas "vão querer dar ainda mais poder ao aparato espião doméstico e empregá-lo na direção da direita".

Os democratas têm se focado em "tecer uma narrativa política" sob o pretexto de combater terrorismo, não tendo como alvo militantes jihadistas, Antifa ou BLM, e se concentrando em supremacistas brancos, de acordo com Andrew McCarthy, ex-procurador-assistente do Distrito Sul de Nova York, EUA, que também falou à Sputnik.

"O padrão duplo aqui é terrível. O Partido Democrata piscou o olho e acenou com a cabeça para os motins [do verão de 2020] de BLM/Antifa [...]. A mídia até inventou um novo termo para descrever a orgia de saque e destruição, 'maioritariamente pacíficos'. Vê-los comparando o motim do Capitólio com os ataques terroristas do 11 de setembro é um gozo", referiu Stroock.

Ao mesmo tempo, ele condenou as "contradições" existentes em defender o movimento para "desfinanciar a polícia", apesar de considerar que as motivações eram bem intencionadas.

"[...] Curiosamente, está ausente qualquer mobilização para desmilitarizar a polícia, que sob o Programa 1033 com o Pentágono tem hipermilitarizado a aplicação da lei doméstica dos EUA mesmo em pequenas cidades nas últimas décadas, ainda que numerosos estudos mostrem que não resultou em taxas mais baixas de criminalidade."

Perspectivas do Partido Republicano

Por fim, William Stroock crê que os republicanos deviam usar o comitê, criado após o segundo impeachment falho de Donald Trump, como justificação para avançar com tentativa de "impeachment instantâneo" de Joe Biden, crendo que o mesmo pode acontecer à vice-presidente Kamala Harris, que expressou apoio a um fundo de apoio a participantes dos motins de BLM.

"Dada a forma como a gravidade política funciona, os republicanos quase certamente ganharão o controle da Câmara e do Senado em 2022."

"Esta comissão é uma tremenda oportunidade para o Partido Republicano", declarou o especialista.

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