A Câmara dos Comuns do Canadá votou na segunda-feira (22) para declarar que a China está cometendo genocídio contra mais de um milhão de uigures na região ocidental de Xinjiang, mas o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau e seu gabinete se abstiveram na votação.
"Há um sofrimento real acontecendo na China. Há um genocídio acontecendo […]. Nossos valores não estão à venda. E o senhor Trudeau precisava enviar essa mensagem hoje [segunda-feira] e ele falhou", afirma Erin O'Toole, líder do Partido Conservador, da oposição, pedindo ao governo que confirme a declaração aprovada pela Câmara dos Comuns e trabalhe com aliados como os EUA para pressionar pelo fim da conduta da China, reporta a agência Associated Press.
A China nega quaisquer abusos e insiste que as medidas tomadas são necessárias para combater o terrorismo e um movimento separatista.
A moção foi aprovada por 266 votos a favor dos 338 possíveis, e convoca também o Comitê Olímpico Internacional a retirar os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022 de Pequim, China. Os principais partidos da oposição apoiaram a moção e controlam a maioria das cadeiras na Câmara dos Comuns. O gabinete de Trudeau é composto por 37 legisladores liberais, incluindo o primeiro-ministro. Há 154 legisladores do partido Liberal, de Trudeau, na Câmara dos Comuns e o restante dos legisladores liberais votou livremente na moção.
"O governo do Canadá leva muito a sério qualquer alegação de genocídio", disse o ministro das Relações Exteriores, Marc Garneau, ao recordar que o país prefere uma abordagem comum com seus aliados sobre o tema.
'Ato vergonhoso'
A China afirmou nesta terça-feira (23) que condena e rejeita a decisão do parlamento canadense. A China apresentou duras representações ao Canadá, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Wang Wenbin.
A embaixada chinesa no Canadá, por sua vez, emitiu um comunicado no qual chama a moção de "ato vergonhoso" e disse que os legisladores canadenses são "hipócritas" por utilizarem como desculpa os direitos humanos "para participar de uma manipulação política em Xinjiang com o objetivo de interferir nos assuntos internos da China".
Pesquisadores e grupos de direitos humanos estimam que, desde 2016, a China prendeu um milhão ou mais de uigures e pessoas de outros grupos minoritários em prisões e vastos campos de doutrinação que o Estado chinês chama de centros de treinamento.