No início de fevereiro, a Anatel decidiu adiar a decisão sobre a proposta para a realização do leilão da tecnologia 5G no Brasil, após pedido de vistas do presidente da agência, Leonardo Euler. A expectativa inicial era de que a discussão fosse retomada nesta quarta-feira (24), mas a reunião do Conselho Diretor do órgão foi marcada para a quinta-feira (25), conforme divulgou a Anatel.
Segundo publicou o portal Metrópoles, a proposta inicial em discussão na Anatel, do relator Carlos Baigorri, não agradou empresas de telecomunicação devido à necessidade de construção de novas redes, o que demandaria investimentos. A discussão teria sido adiada pelo presidente da Anatel por esse motivo.
Diego Pautasso, professor de Relações Internacionais e especialista no BRICS, explica que no caso de decisões estratégicas como a do 5G no Brasil, pressões empresariais e políticas são esperadas. O professor recorda do imbróglio em torno do tema envolvendo os interesses dos Estados Unidos em barrar a participação da empresa chinesa Huawei do leilão no Brasil e lembra que a tecnologia da empresa já é velha conhecida das teles brasileiras.
"As empresas de telecomunicações, que também têm poder de lobby político relevante, são empresas que já operam com a tecnologia chinesa há mais de uma década. Desde quando se começou a implementação do sistema de celular, a partir da tecnologia 2G. E de lá por diante a Huawei é uma empresa que tem raízes no Brasil", explica Pautasso em entrevista à Sputnik Brasil.
"Resta saber se o governo, que nem sempre se pauta pela consequência política e diplomática, está disposto a arcar com esse litígio. Sobretudo agora, no contexto do imperativo das vacinas e dos IFAs [princípio ativo para a fabricação dos imunizantes], dos quais a China é um dos principais fornecedores", aponta.
Pautasso destaca ainda que é difícil prever se o leilão, cujo formato e data ainda serão definidos pela Anatel, terá mais influência política ou técnica sobre seu formato.
"O que a gente sabe é que há um imperativo e a pressão das teles para implantação do 5G, que é uma tecnologia absolutamente essecial para a terceira revolução industrial e para a assim chamada 'indústria 4.0'", afirma.
Para o especialista no BRICS, as crises econômica, política e sanitária que atualmente ocorrem no Brasil simultaneamente podem retardar a instalação da tecnologia 5G no território nacional.
"[O adiamento da implantação do 5G] obviamente não é positivo para a economia brasileira, sobretudo diante do imperativo da retomada das atividades econômicas.